Aqui, fica essa mamãe, cheia de saudade…

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(Autoria: Patricia Araujo, mãe eterna da Julia)

Era para ser um dia comum, uma mãe retornaria para junto de sua filha, dormiriam e amanheceriam muitas e muitas vezes. Um acidente, uma porta de ferro se solta de um caminhão e interrompe os dias comuns que Patricia sonhava com Julia. Na dor, a confusão, a memória que falta, a súplica, de joelhos, o cobertor e o colo. Os médicos e equipe, que amparam a mãe, a delicadeza da enfermeira na compreensão de entender que para uma mãe um filho sempre terá frio… O amor na despedida, a mãe que segura a filha no colo e entoa cantigas, por duas horas, aquecendo para que não sinta frio, no momento máximo de dor protege, entrega e agradece. Patrícia, na dor, nos ensinando a grandiosidade do amor que nasce do colo e se despede através dele…
“Era pra ser mais uma segunda feira normal, 13/08/18, era pra ser apenas mais uma semana se iniciando, mas aquela segunda feira iria mudar para sempre minha vida e de todos que me rodeavam. Como de costume acordei às 5 horas da manhã, olhei para minha filha, ao meu lado, dormindo profundamente, dei um beijo e me arrumei, sem fazer barulho, para não atrapalhar o soninho dela. Saí, chamei a tia para se deitar com ela, dei mais um beijo e, ainda dormindo, ela sorriu. Peguei o primeiro ônibus, cheguei ao trabalho, fui fazendo minhas tarefas, às 11:00 da manhã conversei com minha amiga sobre o filme “As Mães de Chico Xavier”, como se algo estivesse me preparando, disse pra minha amiga “Deus me livre perder minha filha, minha joia”, ela me disse o mesmo em relação aos filhos dela. Terminado meu horário de trabalho, como de costume peguei o ônibus para retornar, sempre durmo no ônibus mas, naquele dia, vim olhando pela janela, sem sono nenhum, estava ansiosa para chegar em casa logo, minha mãe iria viajar para São Paulo com meu irmão e queria dar um beijo nela antes que fosse. Num certo trecho cochilei breve e acordei assustada, sensação de uma voz chamando meu nome, acordei com uma dor no peito e percebi que algo não estava certo.
Cheguei ao ponto final do ônibus, um vizinho veio, com a mão no peito, dizendo que havia acontecido algo com minha neném e minha irmã, quando olhei para cima havia muitas pessoas, olhei para o céu e pedi a Deus que me desse forças. Subi correndo, as pessoas foram abrindo espaço para que eu chegasse, até que vi minha irmã caída, com o rosto todo ensanguentado e dizendo “Julia, Julia”, olhei, procurando minha filha, a enxerguei caída, muito pálida, com os olhinhos parados. Gritei, implorei para Deus não levá-la, a cabecinha toda machucada. O socorro chegou rápido, levaram as duas na ambulância até o pátio da escola, depois seguiram de helicóptero. Ninguém me dizia nada e, então, apagou minha memória, apenas me lembro de chegar ao hospital do trabalhador, ajoelhar no corredor e rezar, muitas pessoas rezando comigo. Os médicos vieram ao meu encontro, como anjos, me abraçando e dizendo que ia dar tudo certo, pacientes e com palavras consoladoras. Minha irmã foi para o hospital evangélico com minha mãe, ali, a família se dividiu. Quando subi na UTI e vi minha joia, meu neném que cuidei com tanto amor, toda cheia de aparelhos, gelada, percebi que era apenas seu corpo que estava ali, sua alma já havia sido recolhida, mesmo assim não perdi as esperanças, não conseguia notícias da minha irmã, estava tudo tão confuso…
Começou a sangrar pela boquinha da minha neném e me tiraram de lá. Conversei com Deus e Nossa Senhora e disse que não podia ser egoísta, eu tinha que pensar nela eu a amava tanto para vê-la sofrendo, entreguei ela no colo de Maria e Jesus e, então, exatamente no dia 14 de agosto de 2018 as 00:48 seu coraçãozinho não aguentou e parou…Meu mundo acabou ali, naquele instante, então pedi para segura-lá em meus braços pela última vez… Naquele quarto de hospital, a enfermeira a colocou em meus braços e trouxe uma coberta para que eu colocasse sobre ela. Fiquei ali por duas horas, com ela em meus braços, dizendo o quanto havia sido feliz nesses 2 anos e 1 mês em que convivemos, anos que eu não trocaria por nada nesse mundo, foram os melhores anos de toda a minha vida Agradeci por ela ter me escolhido para ser sua mamãe, cantei músicas e pedi para me dar forças para continuar a jornada da vida sem ela…Ela teve traumatismo craniano contundente, devido a pancada que recebeu em sua cabecinha com aquela porta de ferro, fraturou a coluna em três lugares Minha irmã machucou o rosto, teve cortes, quebrou dentes e ficou abalada para o resto da sua vida, mas agora está “bem”.
Agora minha amada Julia se encontra em um jardim lindo no céu junto de outros anjinhos, feliz, sorrindo, quando Deus permitir ela virá visitar a mamãe, lá ela cresce e evolui, não sente dor, continua com o mesmo sorriso belo, irradiante, aguardando nosso reencontro, aqui, fica essa mamãe, cheia de saudades, esperando ansiosa por esse dia…”

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