Como imaginar a finitude da vida para um filho?

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Solange, mãe eterna do Gabriel, fala dessa dor que “não tem nome, nem tamanho e muito menos fim”, como lidar com o silêncio da casa, a ausência do cheiro e dos passos, é preciso respeito com os dias que não passam e com os dias que seguem apesar de, estranho até mesmo a continuidade dos dias sem um amor tão imenso, talvez “oscilando entre a calma e o desespero”, talvez tendo o direito de pensar e falar nesse filho todos os dias, para sempre…

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“Hoje faz um ano que meu filho Gabriel partiu. De forma abrupta, inesperada. Não consegui nem me despedir. Não ouço mais sua risada gostosa e seus passos pela casa. Não vejo mais aquele sorriso lindo. Não sinto mais seu cheiro, que mesmo depois de um treino intenso de judô era maravilhoso. Como imaginar a finitude da vida para um filho? Nunca havia tido tal pensamento sombrio. A dor de perder um filho é indescritível, insuportável. Paralisante. Dor que não tem nome, nem tamanho e muito menos fim.

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Nesse ano fui do céu ao inferno inúmeras vezes, sempre num vazio completo. Sem respostas. Com uma saudade inconsolável que tortura. A oscilação entre a calmaria e o desespero em frações de segundo é cruciante. Não existe um dia que eu não pense nele. Em como ele está, ou onde ele está. Todos os nossos planos, projetos e sonhos foram interrompidos, isso me deixa sem chão. É muito difícil juntar forças para tentar sair desse fundo de poço. Descobri que tenho uma fé capaz de me sustentar e uma família que não me deixa cair. Também descobri que existem vários anjos em forma de gente, pessoas desconhecidas e conhecidas que me estenderam a mão sem pedir nada em troca.
Quando a tristeza de um acontecimento tão traumático como um filho partir vem, temos dois caminhos a seguir. Ou você se entrega à dor e deixa de viver, ou você reaprende a viver com ela e com a falta, continua a jornada tentando levar de uma forma mais leve. Eu segui o segundo caminho, principalmente porque tenho mais três filhos e não quero que eles sofram. Prefiro sofrer sozinha a levar a tristeza a eles. Quem é mãe me entende.
E como eu sei que o Gabriel era alegria pura, tento deixar a vida mais leve. Meu filho sei que você está bem e segue nessa outra dimensão, mas continua vivendo dentro de mim. Meu filho agradeço muito a você por ter me dado a alegria e a honra de ser sua mãe, serei sempre grata por isso. Com esse seu sorriso encantador sigo a jornada do lado de cá e com a certeza do nosso reencontro. E como você falou na carta: mãe é sério estou bem.
-Te amo pra sempre, sua mãe, Solange Schlichta Kojima

Data: 08/09/2020

Insta: @solkojima

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