“Seja forte”, amanheça e adormeça nas continuidades, fique com a sensação que alguém vai chegar, mas não chega…
“Seja forte”, se pergunte muitas vezes onde mora a força, enquanto recebe o desabamento que chega nas despedidas.
“Seja forte”, quando não sabe o que fazer com o sumiço dos olhos, da voz e do cheiro, enquanto procura o que fazer com tudo o que foi oferecido e foi morar em outras bandas…
“Seja forte”, receba o choro, congelado ou incessante, enquanto tenta entender o “nunca mais”, o choro, silencioso ou barulhento, que tem dias de cansaço, como se a gente usasse a reserva de lágrimas de uma vida inteira.
“Seja forte”, escute o silêncio no programa favorito dele, olhe para a poltrona que não recebe o dono, chore no almoço, diante do prato sem morador…
“Seja forte”, converse com o entardecer e conte dessa saudade imensa, que parece apertar quando a noite vai se achegando…
“Seja forte”, se aproxime da dor, fique com o silêncio da lua e das estrelas, se encolha, num abraço imenso em si mesmo, o abraço do medo, da vulnerabilidade, do desamparo.
“Seja forte”, coma sem fome, empurre o que não cabe, contrariando o coração, danado, que toma conta de tudo e não quer que entre mais nada…
“Seja forte”, ande por ruas da sua saudade, sustentando um choro que acontece no meio do supermercado ou do cinema, durante o almoço no restaurante, nas despedidas que acontecerão centenas de vezes.
“Seja forte”, receba quem morreu, abrace as memórias, chore diante das inaugurações sem esse amor.
“Seja forte”, tão forte, que banque manter por aqui quem morreu.
“Seja forte”, tão forte que ouse espalhar fotografias pela casa, fazer as receitas que ele amava, visitar os lugares em que estiveram.
“Seja forte”, se negue a calar o nome de quem partiu, se negue a deixar partir quem merece ficar.
“Seja forte”, amanheça e adormeça nas continuidades, fique com a sensação que alguém vai chegar, mas não chega, traga esse amor para as reuniões de família enquanto molha as plantas e sente o cheiro de café…
“Seja forte”, deixe que seu amor fique…
(Para todas as pessoas que tem a ousadia de “ser forte” através de todas essas delicadezas, mantendo por aqui quem amam, e há os que acreditem que nisso tudo não reside força…)
Me vi em muitas escritas que li !!! Perdi meu filho com 30 anos . Foi muito difícil !! Fiz muitas perguntas .
Sinto muito, Estela, que você seja acolhida nessa saudade imensa…