Essa dor que não tem nome, indescritível…

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Juliana, Thiago e Helena. A paz e a felicidade que residiam ali, tanta que pareciam um. Um incêndio, a vida que muda em minutos, “em questão de minutos minha vida desmoronou, perdi minha filha, meu maior tesouro. Essa dor que não tem nome é indescritível, quase surreal.” Juliana queria colo, Juliana precisava de colo. Qual o  caminho? A fé, transformar essa dor em amor na travessia do luto, tão estreita. No amor, Thiago e Helena ficam, para sempre. Assim é, assim será, assim merece ser.

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“Me recordo que fui pegar a chave da porta, Thiago a pegou no colo e abrimos a porta da sala, naquele momento fomos atingidos por uma avalanche de fumaça preta.”

“Naquela madrugada, o dia já estava quase amanhecendo, acordamos com o som do interfone de forma insistente. Levantamos imediatamente, alarme de carro disparado, olhamos na janela e não vimos nada diferente, mas, ao acendermos a luz, notamos fumaça em nosso apartamento. Imaginamos, naquele momento, um curto na fiação, na hora pensamos em sair do nosso apartamento, Helena ainda dormia.

Me recordo que fui pegar a chave da porta, Thiago a pegou no colo e abrimos a porta da sala, naquele momento fomos atingidos por uma avalanche de fumaça preta. Morávamos no último andar, nosso apartamento serviu de chaminé para toda fumaça. Não entendemos na hora, mas não era nosso apartamento que estava pegando fogo, era o prédio todo.

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“Minutos depois, Thiago chega até mim e fala que não tinha conseguido salvar Helena. Entrei em desespero. Ele voltou, voltou e, por diversas vezes, entrou no prédio na tentativa de salvá-la, mas não era mais possível.”

Tentamos descer as escadas, mas a densidade da fumaça não permitia que nos víssemos mais. Me recordo que escorreguei e desci a escada rolando, não era possível mais possível respirar lá dentro. Escutei a última respiração da Helena, mesmo sem vê-la. Até hoje não sei como eu sai daquele lugar, mas quando saí imaginei que os dois estavam mortos. Naquele momento foi como se meu chão se abrisse, perdi as forças, acho que entrei em estado de choque.

Na rua a movimentação já era grande, as pessoas não sabiam como agir, aliás, acho que ninguém estava acreditando naquilo tudo que estava acontecendo. Minutos depois, Thiago chega até mim e fala que não tinha conseguido salvar Helena. Entrei em desespero. Ele voltou, voltou e, por diversas vezes, entrou no prédio na tentativa de salvá-la, mas não era mais possível. Já no seu limite, ele pediu ajuda e foi resgatado, porém ele teve grandes queimaduras, tentamos tudo que o que podíamos, mas Thiago também veio a óbito 28 dias depois da Helena.

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“Naqueles dias eu não entendia porque havia ficado, em qual seria o propósito da minha vida sem eles. Durante este período eu entendi, muito, a misericórdia de Deus.”

Em questão de minutos minha vida desmoronou, perdi minha filha, meu maior tesouro. Essa dor que não tem nome é indescritível, quase surreal. Passei os piores dias da minha vida, achei que não teria forças para continuar a viver sem eles. Erámos uma família muito feliz, nós três juntos. Parecíamos um.

Naqueles dias eu não entendia porque havia ficado, em qual seria o propósito da minha vida sem eles. Durante este período eu entendi, muito, a misericórdia de Deus. Me joguei em seus braços, sabia que Ele seria o único capaz de curar as minhas feridas.

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“Vivi todas as etapas do meu luto. Sei que ainda tenho muita coisa para viver, mas acredito que tudo é no tempo certo, só não dá pra fugir.”

Uma semana depois de toda essa tragédia vim a saber que o ex-marido de uma moradora do prédio entrou na garagem, colocou fogo no carro dela, causando um incêndio de proporções absurdas, colocando em risco a vida de muitas pessoas que estavam lá, retirando a vida da minha filha e do Thiago. Foi um crime de grande repercussão na minha cidade, acredito que, naquele domingo, até mesmo quem não nos conhecia se sensibilizou com a notícia.

Muitas coisas me fizeram ficar bem pertinho de Deus. Eu queria colo, precisava buscar forças onde eu achava que não tinha e deixei Deus me reconstruir. Vivi todas as etapas do meu luto. Sei que ainda tenho muita coisa para viver, mas acredito que tudo é no tempo certo, só não dá pra fugir.

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“Eu sei que a dor do luto é do tamanho do amor vivido. Quando eu parava para refletir sobre isso, eu sabia que a minha dor seria muito grande, e para aliviá-la, eu sempre teria que transformá-la em amor.”

Não é fácil, eu sei, mas quando fugimos prolongamos a dor, o sofrimento e a angústia. Nada e nem ninguém pode trazê-los de volta, só me cabe enfrentar e, quando enfrentamos tudo pela primeira vez é muito difícil, mas, sem dúvida, a segunda vez fica um pouco mais leve.

Eu sei que a dor do luto é do tamanho do amor vivido. Quando eu parava para refletir sobre isso, eu sabia que a minha dor seria muito grande, e para aliviá-la, eu sempre teria que transformá-la em amor. E, este amor, aprendi com eles, principalmente com Helena que me ensinou o amor mais puro e verdadeiro deste mundo.

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“Por vocês, Helena e Thiago, agradeço a Deus todos os dias, pela oportunidade de Deus ter me permitido a convivência, por terem me dado tanto amor e por me ensinarem a ser quem eu sou hoje.”

Por eles levanto todas as manhãs. Confesso que em muitas delas não há vontade, mas eu sempre penso no dia lindo que Deus preparou, nas novas oportunidades, nos recomeços e como eles gostariam de me ver bem. A morte não é o fim, é apenas o renascimento para a vida eterna, e onde eles vivem hoje é a morada que Deus preparou para todos nós, onde só se vive a paz, o amor e a contemplação da face de Deus.

Eu quero um dia me reencontrar com eles. Vivo aqui na terra buscando o céu, pois não me resta dúvidas que eles estão lá. Por vocês, Helena e Thiago, agradeço a Deus todos os dias, pela oportunidade de Deus ter me permitido a convivência, por terem me dado tanto amor e por me ensinarem a ser quem eu sou hoje. Por vocês escolhi viver o amor, levar ao mundo o amor!

Sei que Deus ainda tem planos para a minha vida. Sei que Deus ainda vai me usar como instrumento do seu amor, é por isso que fiquei. Vocês, hoje, são meus intercessores. O amor que vivemos não morreu, ele permanece em mim, de uma forma mais intensa e pura, é um amor que transcende este mundo.

Eu sou grata por tudo que vocês trouxeram para a minha vida, de nossas famílias e de nossos amigos. Hoje me apoio neles para seguir neste mundo.

E por vocês eu busco diariamente recomeçar, ressignificar e amar!”

(Autoria: Juliana Gava)

@jugava_faria

Fotografia utilizada na capa: @mellcaetano

@lacoselutos_

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