“Fui feita de amor e de muita dor…”

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Conheci a Karina a partir das minhas divulgações sobre luto, “a educadora dos pés descalços”, um ser humano que inicia suas palestras tirando o calçado, num gesto de humildade aos dias que teve e aos que virão. Passou por amor e muitas dores, de mãe que quer desistir e criança que acode, de gente grande que adoece e briga para continuar… ela me lembra o céu, não porque seja perfeita mas, pelo acolhimento, se recebe na própria vida com honra e nos deixa ficar por perto da mesma forma, fazendo com que a gente se sinta imenso, como as coisas que nos cobrem e , ao nos deitarmos, traz aquela certeza de frio que não chega.
Poderia falar horas sobre ela mas, é preciso ouvi-la para entender o amor que sai dessa alma linda, como na música Paradise, Coldplay, “na noite de tempestade, ela fecha os olhos, na noite de tempestade, ela voaria para longe, ela sonhou com o paraíso…”, sonhou, quis, buscou, brigou e, principalmente, acreditou que se “tem vida, tem jeito”, com humildade aceitou, e aceita,  que “a vida não é do jeito que a gente quer”, título de um de seus lindos livros.
A apresentação a seguir está em seu site,  vale a pausa para conhecermos um pouco, muito pouco, a Karina:
“Recebi a dádiva de ser-no-mundo e que se coloca a serviço de ser quem é. Um ser humano que pode contribuir para a humanidade em sua autoria singular.
Durante a fase de adoecimento da inflamação cerebral, caí com uma intensidade assustadora, fiquei amedrontada. Reaprender a andar, caminhando a “passos de tartaruga”, foi outra experiência muito rica, pois a cada passo, mesmo que lento e diferente do que estava acostumada, sentia que continuava viva. Apesar dos muitos efeitos colaterais da pulsoterapia e dos corticoides, aprendi como me superar a cada dia. Duvidei da minha força e capacidade de superação. Na verdade, mesmo antes da inflamação, por muitas vezes duvidei se conseguiria me levantar de alguns tombos que levei na vida. Não tinha clareza de onde extrairia mais forças para suportar mais adversidades em minha vida. Esforçando-me para recuperar o que era meu, sabia que deveria começar pelas minhas raízes.
Amo acarajé com muito vatapá, camarão seco e moqueca de camarão “tamanho GG”. Tomo somente água. Sou “aquólatra” por considerar a água sagrada e a única bebida que sacia minha sede. Adoro tomar sol e ouvir músicas. Amo meu marido, meus filhos, meu cachorro e minha família. Trabalhei muito psicologicamente para acreditar que teria um dia uma bela família. Adoro minha casa e meu consultório, comprado com meu próprio esforço e, por isso, faço questão de preservá-lo limpo e cheiroso. Também adoro gente simples, sorridente, acolhedora e generosa. Desde pequena, tenho adoração por Salvador, mesmo antes de conhecer o lugar e, não por acaso, casei-me com um soteropolitano. Outra característica minha é que odeio peixe, seja ele cru, frito ou assado.
Sou uma pessoas que fui feita de carne e osso. Fui feita de amor e de muita dor. Fui feita dos inúmeros riscos em minha existência. Fui feita de presença ausente e de ausência presente e, sobretudo, fui feita na e da vida para dar significado à minha existência, pois sei que, ao deixá-la, minha missão estará cumprida.”

Karina Okajima Fukumitsu – Psicóloga, Psicoterapeuta, Pós-doutorado em Psicologia, Coordenador da Pós-Graduação em Suicidologia (USCS) e Coordenadora em parceria da Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Institucional de Gestalt-Terapia (Unicsul)

https://www.karinafukumitsu.com.br/

Trechos dos livros:
Fukumitsu, K. O (2013/2019). Suicídio e Luto: história de filhos sobreviventes. São Paulo: Editora Lobo.
Fukumitsu, K. O. (2015/2019). A vida não é do jeito que a gente quer. São Paulo: Editora Lobo.

1 comentários

  1. Lindas palavras que descreveram tão bem a Karina. Quando ela fala de si mesma, de suas dores transformadas em amor, Karina também nos fala de sua força, de que nada na vida é fácil, mas que podemos ressignificar, fazer novas escolhas, pois “se tem vida, tem jeito.”
    A live de ontem com vocês duas, foi linda. Nos falaram de dor e amor, de desespero e esperança, de escuridão e luz. Nos falaram de vida! Gratidão. .

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