Sandra fala dos lutos em vida, quando alguém que amamos fica, mas partes desse amor se despedem. Fala dessa mudança de papeis que a vida pede, num dia qualquer, de esposa para mãe, que acolhe e cuida. A dança apareceu como um lugar das continuidades de um amor que acontece há 32 anos, um amor imenso, que retorna para Marlon como gratidão por tudo que ele ofereceu, “xô xô, demência”.
Sim, precisamos de caminhos quando “nosso mundo cai”, precisamos da dança, precisamos de amores que aconteçam em lugares “divinos e incondicionalmente.”
“Marlon sempre foi nosso porto seguro. Tivemos duas filhas lindas, Isabela e Isadora”
Sou Sandra, me casei há 32 anos com Marlon, em 14/04/90, uma das datas mais importantes de nossas vidas. Marlon sempre foi nosso porto seguro. Homem alegre, justo trabalhador, marido leal e pai exemplar. Tivemos duas lindas filhas, Isabela e Isadora.
Sempre vivemos em um lar de muita alegria e união.
“Marlon começou a manifestar alguns comportamentos diferentes, manifestava exagero na comida, risadas e repetições.”
Tudo começou a mudar há oito anos, em 2014, quando Marlon começou a manifestar alguns comportamentos diferentes, manifestava exagero na comida, risadas e repetições.
Pensei que fosse ansiedade e o convenci a irmos ao médico.
Passamos por vários médicos, não demorou muito, o diagnóstico, Demência Frontotemporal, uma doença neurodegenerativa, progressiva e, para a medicina, sem cura. Me lembro que, após o diagnóstico, ficamos alguns dias com minhas filhas, eu, paralisada com a notícia.
“Passei por momentos de verdadeiro ” luto” , pois sabia que o estaria perdendo aos poucos, lutos em vida.”
Inicialmente, meu mundo caiu. Passei por momentos de verdadeiro ” luto” , pois sabia que o estaria perdendo aos poucos, lutos em vida.
Em 2018 houve uma evolução da doença, saí do meu emprego para, exclusivamente, cuidar do Marlon, pois não queria delegar essa função a ninguém. Em 2020, com a pandemia, meu emocional e físico ficaram um pouco abalados e eu tinha que achar uma saída para nós, já que não podíamos sair para caminhar ou ir à Fisioterapia.
Precisei me reinventar para nos alegrarmos e prosseguirmos nesta batalha. A dança foi nossa luz, nossa válvula de escape.
“Precisei me reinventar para nos alegrarmos e prosseguirmos nesta batalha. A dança foi nossa luz, nossa válvula de escape.”
Comecei a dançar e via que nos alegrávamos e estimulava o Marlon. Gostei da ideia e fazia os vídeos e enviava para minha família e amigos, onde todos riam e se alegravam comigo. Depois de um bom tempo e com estímulos de alguns, mas com muita vergonha, comecei a postar nas redes sociais, pois percebi que poderia ajudar muitas pessoas que passavam pela mesma situação que a nossa. E deu certo!!!
Hoje as mensagens que recebo são gratificantes e me fortalecem para prosseguir e sei que estou ajudando a muitos. É o que chamamos da lei do retorno. Faça o bem e receba o bem!!!!
“Sei que de esposo tornou-se filho e sei também que ele não tem consciência dos laços que nos unem, mas não importa, pois sei quem ele foi e continua sendo.”
Hoje, viver com Marlon continua nossa alegria e gratidão a Deus.
Sei que de esposo tornou-se filho e sei também que ele não tem consciência dos laços que nos unem, mas isso para mim não importa, pois sei quem ele foi e continua sendo. Seu sorriso, seu olhar e alguns gestos bastam para que me sinta amada e feliz.
Nosso amor é divino e incondicional.
(Autoria: Sandra Nicastro)
@sandra.nicastro
@lacoselutos_
Parabéns pela reportagem sobre a história de Marlon e sua esposa Sandra.
Tomo a liberdade de sugerir reportagem sobre a história de carlacicarini e seu esposo “Instagram e Facebook”.
História de luta e dedicação a seu esposo com muito amor e esperança de sua cura.