Mãe, me sinto como uma folha ao vento…

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Aline e a despedida de sua mãe, amada Tete. O COVID, o trabalho, a contaminação. A internação, o medo, a despedida. Alguns caminhos não são escolhas, Aline não escolheu, trabalhava. Junto com a despedida e a saudade, a procura por caminhos que contem sobre o nosso descontrole, que nos ajudem na compreensão do que foge de nossas mãos, corpo e coração. A vida tem dessas travessias, é preciso generosidade com nossa estadia e resgatar todo o amor recebido e oferecido para continuarmos, nos perdoando, e amando, porque a Tete fica, para sempre. Assim é, será e deve ser.

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“Minha mãe ficou viúva aos 37 anos, não se casou novamente. Cuidou das três filhas sozinha, dando estudo e formação profissional.”

Me chamo Aline, perdi meu pai com onze anos de idade. Após a perda me identifiquei com o Serviço Social, profissão que segui. Sempre trabalhei em empresa privada. Na pandemia, os atendimentos eram voltados 70% ao COVID. Não imaginaria que o suporte aos colaboradores seria vivido em minha história atual e familiar, mesmo sabendo dos riscos de contaminação.

Minha mãe ficou viúva aos 37 anos, não se casou novamente. Cuidou das três filhas sozinha, dando estudo e formação profissional. Tete sempre teve um coração lindo, cheio de bondade, amor e dedicação ao próximo.

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“No terceiro dia, o pulmão dela estava 35% comprometido e a internação se fez necessária. Nesse momento me senti impotente, insegura e com muito medo de perdê-la.”

Quando adquiri o COVID, minha vida mudou para sempre. Acredito que adquiri o vírus nos atendimentos e passei para toda minha família.

Transmiti o vírus para minha filha, esposo e minha mãe Teresa (Tete); passamos um mês de incertezas, idas e vindas ao hospital. No primeiro atendimento com minha mãe, que de nós quatro era a que estava com mais falta de ar, conversei com a médica e perguntei o que poderia fazer para que ela não ficasse internada. Ela informou que eu deveria levá-la todos os dias para ficar quatro horas no oxigênio até que apresentasse melhoras, assim fiz. No terceiro dia, o pulmão dela estava 35% comprometido e a internação se fez necessária. Nesse momento me senti impotente, insegura e com muito medo de perdê-la.

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“Eu disse que a buscaria em breve, mas esse dia nunca chegou. Peço perdão diariamente pela transmissão de COVID.”

Na internação a abracei, pedi perdão por ter transmitido o vírus, disse que a amava e pedi para trabalhar o psicológico. Eu disse que a buscaria em breve, mas esse dia nunca chegou. Peço perdão diariamente pela transmissão de COVID.

Foram quinze dias de despedidas, eu tentando dar força através das vídeo chamadas e me sentindo em uma bolha sem saída. Eu pedia a cada segundo a restauração do pulmão da mulher que eu mais amo.

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“Falo dela com constância, pois ela vive em mim e, enquanto minha vida existir, ela será lembrada com muito amor, respeito e admiração.”

Me despedi de minha mãe, Teresa, carinhosa e eternamente nossa Tete, em 15/05/21, por COVID 19. Minha mãe partiu aos 63 anos, cheia de energia, partiu para sempre. Ela era minha melhor amiga e a saudade é dilacerante.

Sinto sua presença a todo instante e penso que cada dia que passa é um dia a menos para o nosso reencontro. Falo da Tete com constância, pois ela vive em mim e, enquanto minha vida existir, ela será lembrada com muito amor, respeito e admiração.

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“O pior dia do luto é um dia normal, acontece algo bobo ou importante e penso como gostaria de compartilhar com minha mãe.”

O pior dia do luto é um dia normal, acontece algo bobo ou importante e penso como gostaria de compartilhar com minha mãe, aí sou esmagada por uma saudade sem fim e começo a me recordar dos bons momentos juntas, das risadas, dos sorvetes no fim de tarde e de tudo que vivemos.

Cada coração e mente reage de um jeito ao luto e seguimos sem saber o que realmente será a passagem. Seguindo o que cremos é que encontramos forças para continuarmos no caminho da saudade, do cheiro e das lindas recordações que ficam estampadas nas fotos e memórias.

Me sinto como uma folha ao vento.
Meu eterno amor, até breve.
Te amo de janeiro a janeiro, minha eterna Tete.

(Autoria: Aline Avanzze Bomfim)

@alineavanzze

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