Regivaldo e Cleci, o encontro e um amor que se estende, triplica. Miliane, Manuela e Melissa, a continuidade, as filhas. O trabalho, o caminhão, o contato diário. As chamadas sem retorno, o silêncio, o pressentimento. A brutalidade. A separação física que chega de um jeito que não se descreve, tamanha a dor. Como retornar para casa? Como seguir sem os vestidos, o parque, os abraços, a espera no portão? A fé para os recomeços que só conhece quem vive. O amor que ultrapassa céus e terras para suportar amar sem tocar.
“Me despedi fisicamente de Cleci, minha esposa, aos 46 anos, minhas filhas, Miliane, 19 anos, Manuela, 12 anos e Melissa, 10 anos.”
“No dia 24/11/23, passei a amar minha esposa e minhas filhas de uma maneira que somente o amor consegue suportar, sem ouvir, sem tocar, sem ver… Me despedi fisicamente de Cleci, minha esposa, aos 46 anos, minhas filhas, Miliane, 19 anos, Manuela, 12 anos e Melissa, 10 anos.
“Minha esposa, sempre presente, me ajudava muito e me incentivava a tentar outras funções, sempre me colocando pra cima no seu jeito especial de ser.”
Minha esposa sempre foi muito amável, sempre dando beijos e abraços. Uma mulher inteligente, muito trabalhadora e esforçada, sempre olhando o bem estar da família, linda no seu jeito de ser… uma mãe amorosa, cuidadora, amiga e brincalhona. Estava sempre presente, me ajudava muito e me incentivava a tentar outras funções, sempre me colocando pra cima no seu jeito especial de ser.
“A Miliane, nossa lindona, era a mais quietinha, mas, às vezes, soltava as pérolas dela, nos divertíamos junto à mesa, conversando e dando risada das falas dela.”
As meninas, todas muito educadas, tratavam todos com muito respeito, eram amorosas e carinhosas, acho que herdaram isso da mãe, meus tesouros.
A Miliane, nossa lindona, era a mais quietinha, mas, às vezes, soltava as pérolas dela, nos divertíamos junto à mesa, conversando e dando risada das falas dela. Uma filha linda que nunca nos deu problemas quanto a sair, festas e tal, sempre juntos, muito educada, todas as três muita educação e respeito pelas pessoas.
“A Manuela, linda, a mais meiga da família. A Melissa, minha lindinha, a mais peralta e engraçada da família, eu a chamava de meu “chaveirinho”.”
A Manuela, linda, a mais meiga da família. Era muito sentimental, mas quando ficava brava, nossa… ela era uma benção, inteligente, também gostava muito de ir ao parque, era a que mais pedia para irmos até lá, minha “magricela” como, muitas vezes, a chamávamos. Amava doces, nossa comilona, por isso controlávamos um pouco.
A Melissa, minha lindinha, a mais peralta e engraçada da família, eu a chamava de meu “chaveirinho” por ser pequenininha, inteligente, já estava falando inglês e ensinava as palavras para todos nós. Gostava de nadar, me mostrava todos os tipos de nado que vinha aprendendo na escola. Ajudava a Manu e a Mimi em casa, uma graça.
“Sou caminhoneiro. Estava em viagem, trocávamos mensagens diariamente. Após várias ligações sem retorno, pedi que a polícia fosse até minha casa.”
Todas elas muito educadas, amorosas, respeitosas com as pessoas e de corações imensos, ajudavam as pessoas, amavam os animais, bençãos de Deus em minha vida.
Sou caminhoneiro. Estava em viagem e sempre trocávamos mensagens, diariamente. Após várias ligações sem retorno, pedi que a polícia fosse até minha casa, me retornaram dizendo que parecia tudo em ordem, inclusive com o ar condicionado ligado. Ocorre que continuei sem notícias, autorizei, então, que a polícia entrasse em minha casa, acompanhados de minha cunhada.
“Não tenho mais elas me esperando no portão. Cada vez que saio dá vontade de não retornar para casa. A gente vivia pra gente.”
Recebi a pior notícia da minha vida, todas haviam falecido. Um crime brutal, após o ocorrido não consegui retornar para casa, tendo permanecido até abril junto da minha sogra. Me mudei de casa, mudança essa necessária, não tenho coragem de passar na frente da casa em que morávamos.
Não tenho mais elas me esperando no portão. Cada vez que saio dá vontade de não retornar para casa. A gente vivia pra gente. Eu chegava de viagem ficava somente em casa, junto da minha família. Saiamos, andávamos de bicicleta. Eu já tinha pouco tempo, o caminhão toma muito tempo da gente, então quando estava em casa era só para elas.
“Ainda não sei o que vou fazer. Eu já sai na rua pensando “mas onde eu vou?”, fui e voltei, como se não soubesse o que ia fazer, sem rumo.”
Eu adorava vê-las de vestido, tem vestido que ainda não usaram. Saíamos para comprar vestido pra elas. Eu não queria ficar com amigos, queria ficar com elas, às vezes ia fazer carregamento levava as duas pequenas junto…
Vou ao mercado, olho, tem vez que não compro nada, parece que não tem porque comer, era tudo pensando nelas, eu gostava de cozinhar para elas. Tudo lembra elas. Falta tudo, elas eram tudo para mim.
Ainda não sei o que vou fazer. Eu já sai na rua pensando “mas onde eu vou?”, fui e voltei, como se não soubesse o que ia fazer, sem rumo. Sei que a vida segue, mas só quem está vivendo sabe como é difícil o recomeço. Eu sei que tem recomeço, mas é muito difícil você achar um lugar para o recomeço.
“Eu durmo abraçado com o travesseiro delas, minha sobrinha me deu um travesseiro com a foto delas. Acordo, dou um beijo nelas, dobro meus joelhos.”
Todas as coisas delas estão comigo, guardo tudo com muito carinho, os móveis que conquistamos com esforço, brinquedos, sapatos e roupas, cuido deles com o zelo que elas tinham, tudo isso me traz a presença delas e isso me ajuda, como se elas estivessem aqui comigo. Me perguntam se vou doar mas, no luto, amanhã é um dia muito longe, minha decisões são sempre no dia em que estou vivendo, amanhã não sei. Hoje, vai ficar tudo comigo.
Eu durmo abraçado com o travesseiro delas, minha sobrinha me deu um travesseiro com a foto delas. Acordo, dou um beijo nelas, dobro meus joelhos. A única força é do Senhor, você pode estar rodeado de amigos, mas está sozinho, nada preenche. Peço a Deus que me dê força e graça.
Hoje me resta a saudade, Deus me sustenta para conseguir seguir o meu caminho.
Deus tem me dado graça e força para seguir, me fortalece nesse deserto da vida. É um processo muito difícil, mas não desisto, pois tenho a plena convicção que as reencontrarei na eternidade.”
(Autoria: Regivaldo Batista Cardoso)
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