Muita saudade, até o fim dos meus dias…

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(Autoria: Edmauro Pereira Santos)

Edmauro queria pouco, desses poucos que povoam o coração e dão sentido às nossas travessias, queria caminhar de mãos dadas, sentir o perfume, se embriagar do sorriso, mas não há escolhas, não há controle, a gente acorda e tudo mudou, rapidamente, sem tempo de termos tempo. Como dizer para alguém se despedir de um amor de uma vida inteira em trinta dias? Nessa travessia as flores, semanais, no túmulo, a fotografia no quarto, as infindáveis memórias dos lugares da alma e da vida percorridos vão dizendo sobre a saudade, que pode e merece ficar, dando um jeito no que não damos jeito para que Lúcia fique “para sempre” ao lado de seu amor. Que nós, desconhecedores dessa ausência, possamos dar voz e escuta aos amores que não merecem partir, que Lúcia possa amanhecer milhares de vezes na imensidão desse amor…

“Minha tristeza é inenarrável, sou a única pessoa que conhece suas proporções devastadoras Primeiro vieram a angústia e o desespero. Anteciparam-se à tristeza que se seguiria. Esses sentimentos vieram à tona junto com o diagnóstico dos médicos. Ali, naquele momento, eu percebi que a situação era extremamente grave e que o tempo da minha querida e inesquecível companheira por cerca de 55 anos seria muito breve, e de extremo sofrimento. Vê-la sofrer, o sentimento de impotência em reverter o que se antevia, me consumiram. Foram 30 dias de verdadeiro torpor. Os 11 primeiros, cumpridos na U.T.I de um hospital. Os demais, em nosso lar, com todo o suporte e cuidados de médicos e enfermeiras, que se desdobraram numa missão impossível. Quando ela partiu, sobreveio a tristeza, como machuca e como fere!
Tenho procurado todas as formas de combatê-la, abrigando-me no carinho de meus filhos, noras, netinhos, cunhada e irmão queridos. E no de amigos que não me abandonaram. Tenho buscado a paz de que tanto preciso nesse momento mais aflitivo de minha vida também nas orações, na fé em Deus e no suporte de uma profissional especializada em tratar de pessoas enlutadas.
Tenho consciência plena de que a vida é finita. E que poucos tiveram a ventura de ter amado tanto e de ter sido tão amado pela mesma amante, amiga e companheira por tanto tempo. Por outro lado, me aquieta sentir que nossa história de amor transcende os limites desta vida. Sinto falta de caminhar de mãos dadas com Lúcia, do seu perfume, do seu sorriso calmo, doce e cativante. Luto desesperada e incessantemente para continuar minha caminhada com coragem e dignidade. Sei que isso a deixaria feliz. E o farei, se conseguir vencer essa dura batalha que travo dia a dia hora a hora contra esse terrível inimigo. Vá-se embora tristeza. Por favor, me deixe em paz, para que eu possa enfim sentir saudade. Só saudade. Muita saudade, até o fim dos meus dias.”

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