“Não briguem com a saudade…”

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(Autoria: Teresa Gouvea)
O luto é assim, a gente tá saindo do supermercado e, do nada, pensa “ele não está aqui”, aí vem aquela vontade imensa de abraçar, ouvir a voz, ficar somente olhando ele sendo quem era, tão pouco e tão tudo…
Difícil é lidar com o sumiço dos olhos, a gente procura e não acha, procura e não ouve, procura e não enxerga, aí, a gente se debruça, humildemente, aceitando o tamanho da gente na imensidão do universo, aceitando o descontrole e a morte física, somente física, quem a gente ama nunca morrerá.
Nesse caminho falamos trezentas vezes “tô com saudade”, como se fosse uma notícia inédita, quem tá ao lado olha e faz aquela cara de “já sei e tô aqui”, não tem mais o que falar, mas tem muito para ouvir e, por favor, ouça.
Nessas datas festivas a gente vai lembrando de quem não está, feito intervalo de vida, a gente corre, espia esse amor, retorna a fazedora da comida, da louça para lavar e da flor para regar.
O recado é, não briguem com a saudade, coloquem lençóis limpos pra ela, sirvam seu melhor prato, façam cafuné, não tem outro jeito de estarmos com quem amamos, não tem.… recebam quem está fisicamente e ofereçam a presença como um bom lugar.
Para quem está ao nosso lado, o recado é, deixem que a gente fale da nossa saudade, isso “não estraga a festa”, isso faz acreditarmos nas continuidades, no amor que fica, para sempre.
Vale chorar, daqui a pouco rir, vale silenciar, vale falar sem parar, isso “não estraga a festa”.
Continuem, sigam, chorando e rindo, falando e silenciando, com todos os amores que carregam, precisamos honrar a vida que nos foi dada, aceitar a nossa passagem da melhor forma possível – regando as plantas, abrindo as janelas do quarto, agradecendo o sol que conversa com as roupas do varal, oferecendo nossa presença a quem nos ama.
Teresa Gouvea
Insta: @lacos_lutos

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