Naquele dia, o beijo e “já volto, mãe”

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Naquele dia, o beijo e “já volto, mãe”. Luiz Marcel não voltou, Raquel ficou, pedindo pouco diante desse amor tão imenso, continuar a falar do filho, diante da vida que segue… porque esse é o jeito de seguir, dar existência a quem amamos. Luiz Marcel, o menino que adorava esportes, conversava com o sol e as estrelas. Raquel, a mãe, que transcende, numa conexão que faz pouco caso do tempo e que falará desse filho no presente, porque um filho sempre será presente: “nos dias mais silenciosos é quando mais o sinto, estamos conectados, ele vive em mim, está presente nesse amor que nos uniu, mãe e filho”. Raquel continua, na poesia, o amor, imenso, em palavras. 

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“Sua moto se chocou com um carro, apesar do enorme barulho, metais e vidros, partiu num piscar de olhos, sereno, assim como aquele momento natural da madrugada”

“Falar sobre o luto que vivemos após a partida física de um amor é emocionante, não diria triste, porque falar nele é bom e nem sempre nos dão oportunidades para isso, por mais que nos amem, as pessoas seguem. O mundo continua em movimento e, muitas vezes, queremos que parem e olhem para nossa dor.

Luiz Marcel partiu num início de madrugada em outubro de 2017, ” semana da criança”, numa rua calma, pouco trânsito, voltando para casa, bem pertinho de casa. Sua moto se chocou com um carro, apesar do enorme barulho, metais e vidros, partiu num piscar de olhos, sereno, assim como aquele momento natural da madrugada, seu tempo nesse plano encerrou-se aos 31 anos!

Era meu filho caçula, aquele que chegou em nossa vida familiar sem aviso, sem planejamento, as irmãs já estavam na adolescência. Ele estava ali, amado imensamente na gestação, já desde a infância muito intenso, o xodó da família! Eu, mãe, ele, filho, Luiz Marcel. De acordo com minha crença a “alma gêmea”, conversávamos no olhar, muitas vezes não era necessário falar. Seu maior sonho era ser jogador de futebol. No início da juventude foi para outro país e estreou o campo verde do seu sonho, foi feliz enquanto durou. A saudade, por viver longe da família, pegou forte, em dezoito meses desistiu. Me lembro de nosso reencontro no aeroporto, inesquecível. Muitas vezes imagino, sonho com esse novo reencontro que um dia acontecerá de novo, é como sinto hoje.

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“Nos dias mais silenciosos é quando mais o sinto, estamos conectados, ele vive em mim, está presente nesse amor que nos uniu, mãe e filho, e não importa que o tempo seja longo, sei que nosso reencontro está marcado.”

Agora, ele viajou para um lugar sem acesso, sem celular, sem áudio, sem vídeo, ficou aqui um imenso amor e uma saudade inexplicável por ser tão intensa. Sigo nessa travessia, vivendo dias que, desenhados num gráfico de barras, seriam completamente irregulares. Dias de silêncio, dias que a saudade grita através do choro, de visita às lembranças em fotos, vídeos.

Nos dias mais silenciosos é quando mais o sinto, estamos conectados, ele vive em mim, está presente nesse amor que nos uniu, mãe e filho, e não importa que o tempo seja longo, sei que nosso reencontro está marcado.

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Em março de 2018 escrevi um poema dedicado a ele, publicado em um livreto de poemas do “Grupo de Sarau Madrinha Damares”, do qual faço parte. O livreto foi lançado num dia frio, no mês de julho de 2018, com uma deliciosa festa, e dedicado ao Marcel. Tive espaço para sete poemas. Na capa constam duas figuras em homenagem a ele, o “boxeador”, “menino com a pipa “, ele nunca deixou de ser atleta, muito disciplinado em seu trabalho e no esporte. Nunca perdeu o hábito de acordar muito cedo para ver o espetáculo do sol nascendo e deitar-se ao ar livre, no anoitecer, para admirar as estrelas, amava, “ama” a natureza, os animais, as crianças.

(Autoria: Raquel de Cerqueira Leite, mãe eterna do Marcel)

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“Marcel me beijava nas chegadas e despedidas. Amava, sempre, como se não houvesse o amanhã. Ele “tem” o sorriso mais lindo que já vi nessa terra, naquele dia, o ” beijo” e “já volto mãe!””

A humildade era, e “é”, sua maior virtude. Fez uma trilha longa no Rio de Janeiro para andar nas nuvens e levar a bandeira de seu time no cume. Abriu os braços como em oração, diante do sol nascendo, ao chegar e ver a beleza do alto entre as nuvens. Nadávamos juntos em alto mar, todo mês de janeiro , nós, família , férias, atravessávamos as ondas grandes e íamos para onde o mar serenava, ali, éramos crianças brincando no azul do mar.

Marcel me beijava nas chegadas e despedidas. Amava, sempre, como se não houvesse o amanhã. Ele “tem” o sorriso mais lindo que já vi nessa terra, naquele dia, o ” beijo” e “já volto mãe!””

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Poema dedicado a Marcel filho eternamente amado!

“Ao meu doce menino”
O poeta que vive em mim ficou quase sem palavras
As lágrimas afogaram a minha voz
Passei a caminhar por lugares desconhecidos de minha alma
No início eram passos lentos, doloridos, sem direção
Eu estive morta, de tanta dor
Fiquei muda, surda, cega, diante do sepulcro
Perdi a luz, escuridão se fez em todo meu ser
Parei de me mover, quase me deixei morrer
Mergulhei no escuro do ser que sou
para saber o que havia lá para reaver
Restou naquela minha dor e escuridão uma luz
Eram seus olhos que me olhavam
em meio a tristeza de minha alma
E a imensa claridade do verde mar de seus olhos me iluminaram
Alcancei seu sorriso alvo, largo, sem dor, só amor!
Suas mãos embalaram as minhas, com calor e amor
Navegamos juntos no passado
primeiro movimento em meu ventre, primeiro sopro e choro,
primeiro sorriso e primeiros passos, nas travessuras,
e a pipa no azul do céu, o rolar da bola e o gol no futebol
Nas tristezas e alegrias da adolescência e juventude
Eu te vi homem, eu te vi alma
Nada mais de você havia na lápide fria
Você me chamou para a luz,
me fez ver as águas e as ondas do mar, juntos mergulhamos,
me fez recordar que se pode andar sobre as águas,
correr nos campos verdes
e caminhar nas areias das mais nobres lembranças
Nas águas profundas da dor,
reencontrei sua essência, minha essência
seu amor, meu amor!
Agora a saudade em flor, em botão
Breve?
Te reencontrei depois do fim
Assim sigo em frente meu doce menino
Aprendi que mais do que meus olhos veem,
meus ouvidos ouvem,
minha boca fala
A MINHA ALMA SENTE!
Raquel de Cerqueira Leite (autora)

@lacoselutos_

@raqueldecerqueiraleite

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