Nosso amor ultrapassa o infinito…

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Uma avó, uma neta. Uma irmã, um irmão. Duas histórias que, de algum modo,  se entrelaçam. Lucianna,  o suicídio, a despedida do irmão, o colo da avó, lugar onde buscou repouso para o que estava vivendo, “mulher muita determinada e de muita fé, era provida de uma evolução espiritual que espero alcançar um dia.”  O irmão e a paz na compreensão que algumas respostas não são nossas, “acredito que há situações que fogem do nosso entendimento e aceitação.” A despedida da avó, mãos entrelaçadas, o adeus em paz. Os dois ficam, nas orações, no amor, na gratidão. Os dois ficam, inclusive, na coincidência na data de suas despedidas. Amor é assim, fica, para sempre.

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“Minha reação foi a pior possível, fiquei muda, perdi a noção das horas e segundos, só consegui perguntar para minha avó se ela estava doente e se era câncer. O silêncio dela foi a resposta que eu não queria ouvir.”

“Em agosto/2017 recebi uma ligação no final da tarde, sexta-feira, estava no finalzinho de plantão (sou Policial Civil), com as malas prontas e viagem marcada para comemorar aniversário da minha mãe no litoral de São Paulo, ao fundo ouvi a voz da minha mãe, embargada, dizendo que eu não poderia mais fazer a viagem, pois ela havia passado em consulta no final da tarde e a médica encaminhado minha avó para o Hospital do Campo Limpo, com quadro de pancreatite grave.

Minha reação foi a pior possível, fiquei muda, perdi a noção das horas e segundos, só consegui perguntar para minha avó se ela estava doente e se era câncer. O silêncio dela foi a resposta que eu não queria ouvir.

Fui para casa, chorando durante todo o trajeto e pedindo copiosamente a Deus que tudo não passasse de um engano. Demos entrada na emergência do hospital naquele mesmo dia, 05/08/2017, uma sexta-feira inesquecível. Ali começou nossa luta, minha e da minha avó Maria Lourdes Careta Cortelazzi, italiana forte, destemida, linda, voz serena e de uma calmaria que fazia inveja a qualquer um.

luciana-4“Fui imediatamente para casa, haviam vários policiais, tentaram me conter, mas entrei e me deparei com a pior cena da minha vida, meu irmão, de apenas dezoito anos, havia se suicidado.”

Ela permaneceu internada por vinte e seis dias, durante a internação foi diagnosticada com uma neoplasia em estágio avançado no pâncreas. Acredito que minha avó já sabia do diagnóstico, iniciou o atendimento em cuidados paliativos. Houve várias outras internações que variavam de quinze a vinte e cinco dias, a última delas foi em final de novembro, onde permaneceu até 20/12/2018. Já não havia mais nada a ser feito, estava cada dia mais fraca, mas lúcida e lutando bravamente.

Em abril/2019, consegui transferência, no trabalho, para o litoral sul, onde meu pai, Claudir, policial civil aposentado, residia. Ele era filho único, residia com minha mãe. Havia tido cinco infartos e um AVC, que o deixou em coma por quase um mês. Nessa época, 08/2003, começou outra fase muito complicada em nossas vidas, um mês após a alta de meu pai, meu irmão caçula, Luiz Eduardo, faleceu.

Era domingo, final de tarde, 10/2003, estava em um churrasco e, após várias ligações perdidas no celular falei com meu pai. Ele, com a voz embargada pedia calma e força, pois precisaria muito de mim. Fui imediatamente para casa, haviam vários policiais, tentaram me conter, mas entrei e me deparei com a pior cena da minha vida, meu irmão, de apenas dezoito anos, havia se suicidado.

Não sei descrever a sensação nos dias que se seguiram. Fui morar com minha avó, Lourdes, pois não conseguia dormir e nem ficar em nossa casa. Ela sempre foi uma mulher muita determinada e de muita fé, era provida de uma evolução espiritual que espero alcançar um dia.

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“Costumo dizer que quando perdemos alguém, principalmente alguém que amamos muito, temos duas opções, morrer de depressão e tristeza, junto com aquele que partiu ou reunir forças e trilhar nosso destino.”

Um mês após a morte do meu irmão entrei em depressão profunda, perdi todo meu cabelo por conta do estresse emocional sofrido, fui parar em uma UTI com problemas cardíacos. Procurei ajuda médica e psicológica para atingir o grau de entendimento e aceitação que estou hoje, minha avó foi fundamental nesse processo. Hoje, sei que não tive culpa pelo ocorrido, rezo para que a alma do meu irmão esteja em paz.

Tenho muitas saudades e sinto falta dele e das nossas conversas, fico pensando como seria se estivesse aqui. Parei de tentar entender o porquê do que houve com ele, acredito que há situações que fogem do nosso entendimento e aceitação. O lugar que ele ocupa em meu coração é único.

Costumo dizer que quando perdemos alguém, principalmente alguém que amamos muito, temos duas opções, morrer de depressão e tristeza, junto com aquele que partiu ou reunir forças e trilhar nosso destino. Fiz minha escolha, foi um caminho árduo, doloroso e lento, mas hoje me sinto bem, equilibrada e por mais dolorido que seja aprendi a conviver com o que houve.

Meu amor por meu irmão será eterno e ele estará sempre dentro do meu coração e das melhores lembranças. Infelizmente, as fotos que tinha com meu irmão estão com meus pais, guardadas, decidiram assim, não que o Du não tenha importância ou porque não queiramos lembrar dele mas, principalmente para meus pais, é uma ferida aberta que vai sangrar sempre. Fecho os olhos e a melhor imagem do Du vem à tona. É assim que quero e vou lembrar dele. Te Amo Du, sua irmã Lú.

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“Ela partiu, coincidentemente, no mesmo dia que meu irmão, rodeada pela equipe hospitalar, amigos e familiares, de mãos dadas comigo.”

Minha avó permaneceu entre nós por seis meses, lutou bravamente contra um câncer que contrariou todos os diagnósticos médicos e o tempo previsto. Ela partiu, coincidentemente, no mesmo dia que meu irmão, rodeada pela equipe hospitalar, amigos e familiares, de mãos dadas comigo.

Seu último suspiro só foi dado depois que eu sussurrei no seu ouvido que eu ficaria bem, que cuidaria de tudo e de todos e, principalmente, do meu pai, seu único filho. Hoje, quase três anos após sua partida, sinto uma saudade imensa, chega a doer, mas tenho gratidão a Deus e a certeza que o tempo que nos foi proporcionado foi fundamental para que eu a deixasse partir em paz, livre, leve e solta, como sempre foi.

Nosso Amor é tão forte que ultrapassa a fronteira do infinito. Gratidão é a palavra para descrever tudo que passamos, gratidão por ter sido uma avó maravilhosa, amorosa e guerreira. Para meu irmão desejo muita luz, orações e que tenha encontrado o descanso junto ao Pai Maior.”

(Autoria: Lucianna Cortelazi, irmã e neta, para sempre)

* MARIA LOURDES CARETTA CORTELAZZI
*17/09/1931 + 05/10/2019
*LUIZ EDUARDO CORTELAZI
*26/01/1986 +05/10/2003

@lacoselutos_
@luciannacortelazi

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