Elisabete e a filha, Mayara, sua Maya. Como mãe fala desse lugar da impotência diante das coisas que vão acontecendo, alertas e pedidos não foram suficientes para que sua querida filha ficasse. Mãe que sente, percebe e dorme aflita. Mãe que acorda após um sonho onde o coração sussurrou. Não será como antes, isso não é possível quando um pedaço de si mesma se despede, “hoje vivo um dia de cada vez, meus dias não tem mais aquele brilho”, mas é preciso seguir, “procuro me manter firme pra seguir a vida até nosso reencontro”, com tanto amor, mas tanto, que sempre enxergará Maya subindo a rua diante dos seus olhos, Elisabete, sempre…
“Meu primeiro filho, Paulo Vinicius, estava com sete anos quando ela chegou, foi uma alegria imensa, meus dois tesouros.”
“Minha filha, Mayara de Camargo, faleceu em 13/11/2018, aos 28 anos, em decorrência de
uma infecção generalizada resultante de uma ruptura no intestino. Me chamo Elisabete, sou mãe da Mayara, a minha Maya, minha menina, minha princesa.
Deus a levou de volta, uma menina cheia de sonhos e planos, estudava Psicologia, já era formada em Administração em RH. Maya é minha segunda filha. Meu primeiro filho, Paulo Vinicius, estava com sete anos quando ela chegou, foi uma alegria imensa, meus dois tesouros.
“Questionei sobre a alta, ela ainda tinha dores, estava vomitando. Tentei argumentar, mas ela me deixou falando sozinha.”
Minha filha era minha amiga, minha companheira. Eu dizia que ela era meus braços e pernas extras, me ajudava em tudo, muito especial. Tínhamos uma conexão ótima, nos entendíamos e nos comunicávamos só pelo olhar.
A Maya saiu de casa no dia 10/11/2018, foi para a festa de um amigo. No retorno, as amigas a levaram ao hospital, estava passando mal, com muita dor no abdômen, lá medicaram e entraram em contato comigo para buscá-la pois já estava de alta. Questionei sobre a alta, ela ainda tinha dores, estava vomitando, mas a médica somente falou que já havia sido medicada, que passaria e estava de alta. Tentei argumentar, mas ela me deixou falando sozinha.
“Ela me pedia que eu rezasse por ela, para que partisse em paz, pedia que fizesse a oração do perdão, para perdoar e ser perdoada.”
Trouxe minha filha para casa, no percurso percebi que piorava. Levei em outro hospital, onde voltaram a medicar e lá ficamos aguardando os exames solicitados. Passamos o dia aguardando. Foi constatada uma ruptura intestinal. Ficamos aguardando o cirurgião, era domingo, ele não apareceu em momento algum e ela passou a noite gemendo e gritando de dor, até que a sedaram e ela sossegou um pouco.
Foi levada para o centro cirúrgico somente na segunda-feira às 14h00, sendo atendida pelo plantonista, sem a presença do Especialista. Foram trinta e seis horas ali, esperando, vendo a minha Maya morrer aos poucos. Ela me pedia que eu rezasse por ela, para que partisse em paz, pedia que fizesse a oração do perdão, para perdoar e ser perdoada.
“Sonhei com ela me chamando: “mamãe, acorda, seu celular está tocando para você vir me buscar, acabou tudo, mamãe, vem logo”.”
Quando foi para o centro cirúrgico já era tarde, a infecção generalizada fez com que se desestabilizasse várias vezes durante a cirurgia, mesmo assim a tiraram do centro cirúrgico e levaram pra UTI. Se ela reagisse bem, no dia seguinte, retomariam a cirurgia, mas ali eu já sabia, ela não voltaria da sedação, era o fim.
Eu a vi naquela cama de UTI, sentindo a pior dor que eu poderia sentir naquela hora. Me despedi e vim pra casa, sabendo que meu telefone ia tocar para voltarmos e assim foi.
Tomei um relaxante muscular. Dormi pesado. Sonhei com ela me chamando: “mamãe, acorda, seu celular está tocando para você vir me buscar, acabou tudo, mamãe, vem logo”. Levantei correndo, era do hospital, chamando os familiares.
“Pedi tanto a Deus por um milagre, mas, infelizmente, o dia dela chegou.”
Pedi tanto a Deus por um milagre, mas, infelizmente, o dia dela chegou. Quando os médicos nos posicionavam sobre a situação dela, eu só pedia a Jesus que fizesse o melhor por ela, e o melhor pra ela era ir de volta para o céu.
Não questionei a Deus em nenhum momento, “por que ela?”, “por que tinha que ser assim?”, aceitei, não querendo, mas aceitei, parecia que ela me dizia o tempo todo: “momys, eu estou viva, estarei sempre com você, não esquece eu te amarei além da vida”.
“Sinto tanta saudade dela, da voz, do cheiro, ainda fico alerta nos horários em que ela saia e chegava…”
Hoje vivo um dia de cada vez, meus dias não tem mais aquele brilho, mas procuro me manter firme pra seguir a vida até o nosso reencontro. O tempo passou, mas meu amor por minha Maya não muda, ela vive em mim, a minha menina, minha estrelinha mais brilhante, meu raio de sol, meu girassol.
Sinto tanta saudade da voz, do cheiro, ainda fico alerta nos horários em que ela saía e chegava, às vezes, me pego olhando pela sacada para ver se ela está subindo a rua. Sinto falta da bagunça dela, hoje, quando vejo tudo no lugar sinto saudade das coisas fora do lugar, são coisas que nunca damos valor, até a bagunça do outro, e agora eu, sozinha. Só peço a Deus que continue a cuidar dela e cuide de mim, para seguir aqui, pois eu sei que ela só mudou o lado do caminho.
Maya, minha menina, você deixou uma saudade sem fim, você sabe o quanto foi, e é, importante na minha vida. Filha, meu amor além da vida.”
(Autoria: Elisabete Testa)
@elisabetetesta
@lacoselutos_
Tocante o relato e a força dessa mãe. Revoltante, porém, o despreparo dos profissionais de saúde e, ainda pior, a falta de investimento público na saúde.