Cláudio, um pai de riso fácil, que oferecia seu tempo de vida em longas e deliciosas conversas. Disponível e grato. Uma luz aonde chegava, acolhendo e oferecendo amor e alegria. Gratidão, fé e alegria foram seus ingredientes nessa travessia. Dudu, um filho que sente saudades com amor e dor. Colo, conversas, risos, carinho, sensibilidade, choro fácil. Tudo isso fica guardado dentro de um filho e atua como um reservatório para uma saudade que não finda. Junto, o maior dos aprendizados, amor e gratidão. Cláudio fica, ontem, hoje e amanhã. Assim é, assim deve ser, assim merece ser, para sempre.
“Uma pessoa alegre, simples e que gostava muito de conversar. Era só esbarrar com ele em qualquer lugar, que logo suas histórias brotavam.”
“Meu pai, José Claúdio Ronconi Faria de Melo, faleceu em 26/07/22, aos 71 anos, em decorrência de um câncer.
Meu pai era de uma irreverência própria, todos que o conheceram podem afirmar o mesmo. Uma pessoa alegre, simples e que gostava muito de conversar. Era só esbarrar com ele em qualquer lugar, que logo suas histórias brotavam. Possuía a capacidade de fazer amizade com qualquer um.
“Era uma pessoa sensível, não tinha medo de chorar e sempre se emocionava com coisas tão pequenas e simples.”
Amava sua profissão, psicólogo, e não hesitava em falar sobre seu tempo de faculdade, seus professores, colegas e estudos. Tinha uma memória excepcional: guardava nomes, pessoas e situações com muita facilidade.
Nos últimos anos, quando a doença se agravou, demonstrou uma resiliência enorme, nunca reclamava de sua condição e sempre se mostrou grato pelo tratamento oferecido pelos médicos e enfermeiras. Era uma pessoa sensível, não tinha medo de chorar e sempre se emocionava com coisas tão pequenas e simples. Pessoa de alma grande, com uma fé verdadeira e valores altíssimos.
“Tentamos oferecer-lhe o maior conforto possível. Realmente era muito doloroso ver uma pessoa tão cheia de vida numa condição tão frágil.”
Sua partida foi fruto de um processo longo… em 2018 descobriu um liposarcoma que precisava ser retirado. Conseguiu fazer a cirurgia somente em 2020 e, detalhe, em meio a toda tensão que vivíamos com o Covid 19. Após a cirurgia desenvolveu uma anemia que foi seu calvário.
Em 13/07/22 precisou ser internado em função de uma metástase em uma das vértebras, acabou perdendo os movimentos da perna. A partir daí, foi tudo muito rápido! O câncer o tomou violentamente. Foram treze dias muito difíceis. Eu e minha mãe estávamos com ele o tempo todo e tentamos oferecer-lhe o maior conforto possível. Realmente era muito doloroso ver uma pessoa tão cheia de vida numa condição tão frágil.
“Tive a graça de ser a última pessoa a vê-lo. Cheguei no quarto, fiz uma massagem em seu braço e ele agradeceu pelas minhas mãos quentes.”
Ele esteve consciente até o fim e mostrava-se otimista. Tivemos a graça de rezar juntos pela última vez com um padre que era muito querido do meu pai. Ele levou a comunhão, confessou meu pai e deu a unção dos enfermos. Apesar da dor, aqueles dias no hospital foram marcados por momentos especiais como esse.
Tive a graça de ser a última pessoa a vê-lo. Cheguei no quarto, fiz uma massagem em seu braço e ele agradeceu pelas minhas mãos quentes. Logo sorriu e disse que ficaria tudo bem, mas que estava sem ar e pediu para chamar a enfermeira. Logo, foi entubado e, depois de algum tempo, nos deixou.
“Ainda estamos um pouco tristes, mas tudo passa (como você mesmo sempre nos dizia) e que logo tudo isso se transforma em gratidão.”
Pois é pai… depois de tantas lutas… você descansou. No céu já não existe sofrimento e daí você vai poder continuar acompanhando nossas vidas. Quantas pessoas vieram contar suas histórias e dizer o quanto você as marcou. Ainda estamos um pouco tristes, mas saiba que tudo passa (como você mesmo sempre nos dizia) e que logo tudo isso se transforma em gratidão.
“Queremos assimilar tudo com tranquilidade… acostumar com a dor e com a saudade que ainda apertam bastante.”
Pai, quero que saiba que eu, minha mãe e meu irmão estamos bem… vivendo o luto de modo natural: sem pressa e sem exigências. Estamos nos cuidando e relembrando as histórias… rindo de algumas, chorando por outras. Organizando aos poucos nossa casa e nossa vida. Precisamos desse tempo!
Queremos assimilar tudo com tranquilidade… acostumar com a dor e com a saudade que ainda apertam bastante. Mas também aproveitar esse momento para estar em família e sermos presença um ao outro”.
“Pai, poderia descrever o quanto aquela noite ainda me assombra. Detalhes tão difíceis… Teu olhar cansado, tuas últimas palavras.”
Confesso que nem sempre é fácil. Algumas vezes tenho a impressão que chegarei em casa e irei te encontrar. O vazio é evidente. Parte de mim, foi embora com meu pai. Mas outra parte continua vivenciando esta postura de gratidão.
Pai, poderia descrever o quanto aquela noite ainda me assombra. Detalhes tão difíceis… Teu olhar cansado, tuas últimas palavras… Poderia tentar contar quantas lágrimas derramei ao longo deste ano. Poderia recordar o quanto você me faz falta. Tua alegria. Tua sabedoria. Teu jeito sincero de ser.
Poderia cantar todas as canções que você gostava. Ou daquelas que me lembram de ti. Poderia partilhar com orgulho todas as vezes que me senti sozinho e que você me deu colo, me ensinou, cuidou de mim. Poderia tentar te esquecer, porque assim seria mais fácil… ou até mesmo menos doloroso. Poderia ter a atitude de não aceitar a realidade e parar no tempo.
“Pai, nesta data tenho tantos sentimentos desencontrados. Mas espero que continue sendo meu parceiro aí do céu.”
Mas, nesta noite, apesar de toda tristeza, reconheço que sou privilegiado por tudo o que vivemos. Tive a graça de estar por perto no pior momento de sua vida. Aproveitamos bastante. Passeamos. Choramos. Conversamos sobre tudo. Aprendi seus melhores conselhos. E nunca pensei que o luto seria tão difícil.
Pai, nesta data tenho tantos sentimentos desencontrados. Mas espero que continue sendo meu parceiro aí do céu. Guarde um lugar bem bonito pra mim! E saiba que continuarei a te amar, a falar de você com orgulho, a colocar em prática todos seus conselhos e a buscar ser grato pela sua vida.
Te amo… até a eternidade!”
(Autoria: Dudu Toledo)
@dudu.toledoo
@lacoselutos_