Filha, não preciso ser forte o tempo todo…

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Izabela, Rafa, Theo, Lucas e Luna. A morte de Lucas e o diagnóstico da trombofilia. A morte dos pais. A gravidez de Luna, esperada, desejada. A esperança, a entrega, o luto, a saudade. Serão cinco, sempre, tudo é retirável, menos o amor, que trilha um caminho de ajuda, doação, amor, um Instituto, para sempre Luna. Assim é, assim deve ser, assim merece ser, para sempre.

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“Sou Izabela, esposa do Rafa, mãe do Théo e dos anjinhos Lucas e Luna.”

“Sou Izabela, esposa do Rafa, mãe do Théo e dos anjinhos Lucas e Luna. Tenho trombofília, fui diagnosticada em 2016, após descobrir que meu primeiro filho, Lucas, estava morto em meu ventre. Sim, este foi meu primeiro luto e a primeira vez que entendi que a morte chega para todos, mesmo diante de uma vida tão esperada.

Luna é um nome de origem latina e significa lua, a iluminada! Minha menina foi muito desejada. Com a confirmação da sua vinda, comemoração e medo. Pelo meu histórico, engravidar, para mim, já era tabu. O Théo veio sem nenhum problema, graças a Deus. Ano passado foi muito difícil par minha família, em menos de três meses, perdi minha mãe e meu pai, ambos para o câncer. Acredito que almas gêmeas como eles eram, não poderiam viver um sem o outro.

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“Foi para a UCI, por precaução, para ganhar peso. Após quinze dias foi para o bercinho, meu coração se encheu de alegria e emoção, mais uns dias e, finalmente, iria para casa.”

Da decisão para engravidar até acontecer de fato foi questão de um mês. Já no primeiro mês, um susto, eu estava com Covid, mas em cinco dias já estava me sentindo bem. Minha gravidez foi relativamente tranquila, não parei um minuto.

No dia 16/08, com 35 semanas completas, fui fazer minha consulta, havia agendado a cesárea para o dia seguinte, não podíamos correr o risco de uma pré-eclâmpsia. Minha pressão estava controlada pelos remédios, mas Luna já não estava ganhando peso. Luna nasceu com 1,610kg e 42cm, olhinhos abertos para ver o mundo que se abria para ela. Chorou e nos encheu de alegria. Foi para a UCI, por precaução, para ganhar peso. Após quinze dias foi para o bercinho, meu coração se encheu de alegria e emoção, mais uns dias e, finalmente, iria para casa.

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“Um áudio do médico informava que Luna havia tido uma intercorrência, uma forte pneumonia, estava na UTI. Meu coração gelou, fiquei sem chão.”

Naquela noite, na visita, meu coração ficou apertado, não entendia o motivo. Luna estava bem, mas havia vomitado um pouco, estranhei. Me disseram para ficar tranquila, os sinais estavam ótimos, mesmo assim, eu passei a visita toda olhando aquele rostinho, querendo chorar. Queria levá-la para casa. Me despedi, com lágrimas nos olhos, sem entender o porquê, disse para ela ficar bem, que logo iria comigo e tudo aquilo acabaria. Voltei aos prantos para casa, sem entender nada. Ah esse instinto materno, nunca falha.

Na manhã seguinte, um áudio do médico informava que Luna havia tido uma intercorrência e se encontrava com uma forte pneumonia, na UTI. Meu coração gelou, fiquei sem chão. Aquela mensagem me desestruturou e pela primeira vez, desde o nascimento, eu senti medo de perder minha menina, nunca, em hipótese nenhuma imaginaria perder minha filha depois do nascimento.

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“Segui até a sala e ouvi da enfermeira que minha filha estava em parada. Rafa ainda incrédulo, eu já sofrendo a dor de perder minha filha.”

Em poucas horas, fui informada da piora dela, entubada, sedada e com infecção generalizada. Passaria por uma cirurgia, pois a super bactéria que a atingiu estava acometendo o intestino. Era uma luta contra o tempo. Rafa veio embora de imediato. Foram exatos quatro dias de angústia e dor.

Luna me ensinou a esperar e entregar. Na terça, pela manhã, recebi a notícia que ela havia passado a noite estável, havia saído do coma e diminuíram o oxigênio. Me enchi de esperança. Após o almoço, aquela angústia bateu novamente e fui para meu quarto orar e pedi com toda minha força que Deus fizesse o melhor por ela. Depois seguimos para o hospital, para a visita do dia. Quando chegamos naquele corredor, outros pais esperavam do lado de fora de UTI. Segui até a sala e ouvi da enfermeira que minha filha estava em parada. Rafa ainda incrédulo, eu já sofrendo a dor de perder minha filha.

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“Nenhuma mãe deveria perder um filho, eu perdi dois… Ver Luna, toda de vermelho com tiara na cabeça, parecendo uma boneca, dentro de um caixão, é uma visão que eu jamais gostaria de ter tido.”

Entrei na UTI e me dirigi até a incubadora que ela estava, rodeada por enfermeiras e a médica de plantão, vi que estava na hora de devolver minha pitiquinha para Deus. Pedi que parassem e deixassem Luna descansar. Eu só queria segurá-la em meus braços. Ela veio para o meu colo, cheia de tubos, ainda restando um fio de vida. Eu e Rafa cantamos para ela. Orei. Fiz a mesma coisa que repeti todos os dias desde o nascimento dela e enfim disse: “Chega, filha, está na hora de ir, todo guerreiro merece descanso! Tenho certeza que seus avós estão por aqui. Siga com eles, minha menina, e vá em paz”. Ali, naquele momento Luna se foi. Em seguida a médica atestou que o coraçãozinho havia parado.

Nenhuma mãe deveria perder um filho, eu perdi dois… Ver Luna, toda de vermelho com tiara na cabeça, parecendo uma boneca, dentro de um caixão, é uma visão que eu jamais gostaria de ter tido. O velório foi repleto de amor e muita tristeza. Luna mexeu com muita gente, ainda encontro amigos que me dizem como a história dela os transformou, isso me enche de orgulho, apesar da dor.

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“Sim, eu entreguei minha filha nos braços de Deus, porque todo guerreiro, merece o descanso. Sua hora havia chegado.”

Sim, eu estou de luto!! E sim, vou me permitir viver esse luto!! Não, eu não preciso ser forte o tempo todo. Estou cansada!! Mas diante de tamanha dor sim, eu preciso encontrar formas de me manter em pé e seguir adiante por causa do Théo, meu menino, que assim como a irmã é gigante. Sim, eu entreguei minha filha nos braços de Deus, porque todo guerreiro, merece o descanso. Sua hora havia chegado. Sei que nosso amor vai muito além dessa vida! Meu maior desejo é que ela esteja em paz!! Com todo meu amor!!!

Um dos caminhos para a minha saudade foi um Instituto que fundei, para acolher famílias em luto gestacional e neonatal, além de fomentar e capacitar profissionais de saúde sobre humanização nas perdas gestacionais e neonatais.”

@izabela.simao

@parasemprelunainstituto

@lacoselutos_

3 Comentários

  1. Carmen Rita Bortoncello

    Oi Maizinha …. queridos pais da eterna Luna é tão difícil falar algo . Estamos vivendo essa dor a quase 3 anos . Também fiz a entrega do meu Vinicius. Depois de uma luta incansável de quase 7 meses por câncer . Entreguei meu filho com 30 anos . Tambem não acho justo uma mãe enterrar um filho . Mas fomos escolhidas por algum motivo . Seguimos nosso luto ! Com certeza temos que nos permitir cair e levantar todos os dias em nossa dor . Abraços solidário da Família do eterno Vinicius Piccoli .

  2. Perdi minha filha wallesca com 23 anos para uma doença que não tem cura e vou dizer não aceito até hoje e já se foram 4 anos sem minha menina a alegria de minha casa a estudante de medicina a minha melhor amiga mãe nunca deveria ir antes de seus filhos e um lugar que dói de mas .

    • Sinto muito, Iclea, que você seja acolhida nessa dor imensa, sinta-se abraçada.

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