Clóvis e Regiane. Um amor que estava escrito. Eles se encontram em 1985 e tomam rumos diferentes. Como se o amor aguardasse, se reencontram em 2001, para sempre. Se torna pai de Bruno, numa conexão linda e de Ana Carolina, nascida após o reencontro. O câncer, a cura, o Covid, a partida. A despedida por telefone, sem beijos e abraços. O sepultamento “com menos de dez pessoas, uma oração e um adeus de dez minutos.” Um amor que espera para acontecer não acaba, falar desse amor é continuar amando. Falar desse amor não é deixar de pensar nos filhos. Falar desse amor é se cobrir nos dias frios. Clovis fica, para sempre, assim é, assim merece ser, assim deve ser.
“Nossa história começou em 1985, com o término perdemos o contato, mas quis o destino o reencontro, em 2001.”
Meu amor, Clóvis, faleceu em 25/05/2020, aos 58 anos, com ele vivi uma história de amor que acalenta meus dias frios.
Nossa história começou em 1985, eu tinha 19 e ele 24 anos. Namoramos por quatro anos e com o término perdemos o contato, mas quis o destino o reencontro, em 2001. Durante este tempo separados, me casei e tive um filho. Ele ficou noivo, porém, não se casou. Eu sempre dizia para ele que estava me esperando, por isso não havia se casado com ninguém.
“Em outubro de 2018, ele descobriu um nódulo na mama. Em abril de 2019 o diagnóstico foi concluído, uma doença rara, Sarcoma Granulocítico, Leucemia Mieloide Aguda.”
Nosso reencontro foi lindo! Ele cuidou do meu filho Bruno como se fosse dele, na época com três anos de idade, hoje com 24. A conexão dos dois foi incrível, tanto que meu filho passou a chamá-lo de pai sem que ninguém o ensinasse. Meu marido até chorou de emoção. Em 2004, nasceu nossa filha Ana Carolina, hoje com 19 anos. A família ficou completa. Nós quatro fomos muito felizes.
Em outubro de 2018, ele descobriu um nódulo na mama. Imediatamente procuramos um Mastologista para investigação. Fomos encaminhados para Hematologia e em abril de 2019 o diagnóstico foi concluído, uma doença rara, Sarcoma Granulocítico, Leucemia Mieloide Aguda.
“Em agosto do mesmo ano constataram a remissão da doença, mas era necessário um transplante de medula óssea para que a LMA não voltasse.”
O chão se abriu diante de nós, porém, a fé não deixou abalar a vontade que ele tinha de viver. Ele amava a vida e eu não me senti no direito de deixar que o desespero tomasse conta de mim. Seguimos com muita fé, de mãos dadas com ele em todos os momentos do tratamento que durou o ano todo de 2019.
Em agosto do mesmo ano constataram a remissão da doença, mas era necessário um transplante de medula óssea para que a LMA não voltasse. Foi agendada nova internação para 02/01/2020. Passamos um final de ano tenso, mas cheios de amor. Até pessoas que há tempos não víamos, apareceram em casa para festas de Natal e Ano Novo. Entendo, hoje, que foi uma despedida.
“Clóvis foi internado em janeiro para o Transplante, tendo o irmão como doador, graças a Deus. Tudo deu certo, reduziria as consultas para que ele não corresse o risco de ser contaminado com o Covid-19.”
Clóvis foi internado em janeiro para o Transplante, tendo o irmão como doador, graças a Deus. Tudo deu certo e, a partir daquele momento, faria somente manutenção da medula, comparecendo no hospital uma vez por semana para realização de hemograma.
Em março com a chegada da pandemia, o médico informou que a medula estava produzindo perfeitamente bem e com isso reduziria as consultas para que ele não corresse o risco de ser contaminado com o Covid-19, iriamos mensalmente.
“Nosso último contato ocorreu quando ele ligou em nossa casa dizendo que seria entubado, disse que nos amava, me pediu desculpas e chorou.”
Em 17/04, após apresentar sintomas, infelizmente, foi diagnosticado com Covid. Foi internado na UTI, ainda consciente. Nos falamos através de telefone por dois dias. Ele estava com máscara de oxigênio, mas não estava sendo suficiente. Nosso último contato ocorreu quando ele ligou em nossa casa dizendo que seria entubado, disse que nos amava, me pediu desculpas e chorou.
Fiquei desesperada, mas tive que me conter por nossos filhos. Pedi que não perdesse a fé e disse que estaríamos rezando para que tudo desse certo. Nossos filhos falaram com ele também e, naquele dia, praticamente nos despedimos. Após 38 dias de internação, em 25/05/2020 ele faleceu.
“Ele era muito espiritualizado, me disse que havia sonhado estar rodeado de crianças. Sentia que sua mãe ou a avó, já falecidas, estavam vindo buscá-lo.”
Foi muito dolorido, não conseguimos visitá-lo ou nos despedirmos. Seu sepultamento ocorreu com menos de dez pessoas, uma oração e um adeus de dez minutos. Muito cruel. Todos da equipe médica, que cuidaram dele desde 2019, ficaram incrédulos com sua partida, até os dias de hoje. Ele era uma pessoa muito especial, solidário, querido por todos.
Clóvis era muito espiritualizado, sabia que iria partir. Uma semana antes de ser internado na UTI, me disse que havia sonhado estar rodeado de crianças. Sentia que sua mãe ou a avó, já falecidas, estavam vindo buscá-lo. Tentei mudar o rumo da conversa, mas meu coração apertou.
Foi muito difícil a aceitação, tive que me reerguer para poder reerguer também nossos filhos. Tive muitas noites em claro, queria que as noites nunca chegassem. Hoje meus dias, com mais entendimento, mas com um vazio significativo por sua ausência física, são repletos do amor que guardo pelo meu companheiro, amor, amante, amigo e que vai ficar em minha vida e meu coração para sempre.
“Quando falo sobre meu luto, me dizem que preciso pensar em nossos filhos. Quem disse que não penso?”
As lembranças dos nossos momentos pulsam dentro de mim e me fazem seguir. Ele está presente em cada canto do nosso lar. Agradeço a Deus pelo privilégio de poder ter dividido minha vida com ele.
Quando falo sobre meu luto, me dizem que preciso pensar em nossos filhos. Quem disse que não penso? O que não entendem é que são amores diferentes. Amo nossos filhos, daria a vida por eles!
A saudade faz doer e nem todo mundo entende ou sabe respeitar um luto. Ele é infinito! Essas falas me trazem a sensação que as pessoas não estão disponíveis para que eu fale sobre ele, mas vou seguindo com o amor dos nossos filhos, que preenchem uma parte dessa lacuna. O amor e o legado que ele deixou nos une, com amor e gratidão.
(Autoria: Regiane Chan Ferreira dos Reis)
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