Meu filho e nossos lugares de encontro…

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O que é o tempo para uma mãe? Um ano, dois, quinze, não importa, um filho é presente, sempre. Dom Casmurro aquietou,  espera por Wandinho na página 26, ele não soube de Capitu, não soube se passaria no vestibular… mas ele soube o que não cabia nos livros, a morte chegou e o encontrou como foi, como era, como será, é esse menino que fica com a mãe – sorriso largo doce e terno, amor que se espalha. Uma mãe não se despede de um filho, ele fica, na gratidão pelo que foi oferecido, na memória diária, no amor. Assim é, assim será. “Dance na luz, Wandinho”.

fb_img_1645187593655 “Colocou um marcapasso aos dezoito anos e faleceu aos dezenove. Sua breve existência nos ensinou muito, muito mesmo.”

Wandinho nasceu em 12/03/1987, em Florianópolis. Faleceu em 28/05/2006, com dezenove anos. Ele nasceu com uma cardiopatia congênita, tendo sido diagnosticado com TGA (transposição das grandes artérias do coração).

Fez uma cirurgia com apenas oito meses de idade e, após essa cirurgia, levou uma vida praticamente normal, nem parecia ser um cardiopata. Jogava futebol e tênis, com restrições, evidentemente. Colocou um marcapasso aos dezoito anos e faleceu aos dezenove. Sua breve existência nos ensinou muito, muito mesmo.

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“Agora não ouço saindo pela sua boca seus projetos para o futuro, seus sonhos e suas ambições…”

Minha saudade mora em seus livros, eles espiam da estante, aguardam inutilmente o gesto da consulta. O livro Dom Casmurro que você comprou para ler a fim de passar no vestibular continua na página 26. Já não transitam pelos cadernos aquelas lições de letras miudinhas, impossíveis de ler, gratas de ler, pois derramava nelas uma ternura impossível de esquecer.

E os atos, Wandinho? Você era um jovem homem de fazer e de criar, de pôr outros homens em movimento; não cultivava o prazer intelectual puro mas, sim, o prazer da inteligência voltada às modificação das coisas para melhor. Agora não ouço saindo pela sua boca seus projetos para o futuro, seus sonhos e suas ambições.

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“Foi numa linda manhã de domingo que ele recebeu a MORTE, a recebeu como recebia os amigos, sempre alegre e fazendo brincadeiras.”

Como é estranho, Wandinho, saber que está desligado dessa corrente de vida. É mais estranho ainda a brusca mudança de planos a que me submeto para lembrar de você, muito embora não seja difícil, pois você não sai do meu pensamento um só instante.

Assim nos deixou meu filho, irmão e amigo Wandinho; com a gentileza de costume… dos amigos se despedindo serenos, aos distantes, mandando lembranças. Foi numa linda manhã de domingo que ele recebeu a MORTE, a recebeu como recebia os amigos, sempre alegre e fazendo brincadeiras. Ela, displicentemente, sentou-se ao seu lado na poltrona da sala que fica em frente da televisão, onde assistia a corrida de Fórmula 1 em Mônaco, como se quisesse-lhe fazer companhia. Sorriu e o levou.

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“Meu filho partiu há quinze anos. Penso nele todos os dias, já disse várias vezes, não é novidade nenhuma. Ele sempre aparece para mim, das formas mais variadas, nas coisas que eu vejo, nas coisas que eu faço.”

A passagem do meu filho em minha vida e na vida da minha família foi de um aprendizado enorme. Eu, praticamente, não lhe ensinei muita coisa (como é o dever de uma mãe), foi ele quem me ensinou. Com ele aprendi o que é ser verdadeira, humilde, alegre, otimista e, acima de tudo, o que é ser humana. A única pergunta que faço é? – O que fiz para merecer um presente como esse?

Meu filho partiu há quinze anos. Penso nele todos os dias, já disse várias vezes, não é novidade nenhuma. Ele sempre aparece para mim, das formas mais variadas, nas coisas que eu vejo, nas coisas que eu faço.

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“Muitas vezes, basta eu fechar os meus olhos para vê-lo lindo, leve, sorrindo só para mim. Tenho saudade, muitas saudades.”

Quando penso ou dizem que ele viveu pouco, discordo. Ele viveu muito em seus dezenove anos. Viveu e marcou profundamente a minha vida e da minha família.

Já tive vários encontros com o meu Wandinho. Em sonhos sonhados e em sonhos acordados. Muitas vezes, basta eu fechar os meus olhos para vê-lo lindo, leve, sorrindo só para mim. Tenho saudade, muitas saudades. Mas isso não é absolutamente penoso. Saudade é uma forma de senti-lo novamente pertinho de mim: ‘Saudade é o preço que se paga por viver momentos inesquecíveis.’ Ela sempre existirá, mas será o combustível que nos alimentará e nos fará seguir em frente.

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“Ainda faltam alguns passos, mas seguramente cheguei a esse lugar tão desejado por mim onde encontrei a paz que tanto preciso.”

Confesso que, às vezes, sinto um aperto mais forte, dolorido, mas passa, até porque nossa ligação vai muito além daqui. A nossa ligação é eterna, pra sempre e sempre. E posso dizer, com toda certeza e o coração aquietado e em paz, que consigo lembrar do meu filho com um sorriso. Mas quando digo SORRISO me refiro àquele SORRISO vindo do mais íntimo do meu âmago. Ainda faltam alguns passos, mas seguramente cheguei a esse lugar tão desejado por mim onde encontrei a paz que tanto preciso.

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“Se a dor é marcante, o amor é determinante. Vive mais leve quem aceita sentir saudades.”

Ele foi a luz da nossa vida durante dezenove anos. Hoje é o nosso companheiro silencioso que, com seu olhar doce, nos protege, e com seu sorriso gostoso, alegra nossas lembranças!!

Se a dor é marcante, o amor é determinante. Vive mais leve quem aceita sentir saudades.
QUE SUA ALMA DANCE NA LUZ…

(Autoria: Mara Mattos Pontes)

@lacoselutos_

Facebook: Mara Mattos Pontes

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