É inexplicável a notícia que um filho não resistiu…

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Michel, que veio de Michelli. Michelli, maternidade inaugurada aos dezesseis anos, com esse filho. Michel, aos dezesseis anos se despede fisicamente. O mês de março, cheio de significados, de alegria e tristeza. É tanta dor, que se torna impossível descrever ” a notícia que um filho não resistiu, o chão se abre, passa um filme em sua cabeça em questão de segundos, desde o nascimento até a sua partida.” Na fé e na esperança do reencontro, o sustento, acreditando que “não é um adeus, mas um até breve.” Michel fica. Assim é, assim deve ser, assim merece ser, para sempre.

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“Em 2017, aos quinze anos, veio o diagnóstico de leucemia. Um choque para nós, meu mundo desabou.”

‘Meu nome é Michelli, sou mãe de Michel Renato que faleceu em 20/03/2018. O Michel é meu filho primogênito, o tive com 16 anos, ainda muito jovem, mas creio que Deus me enviou este anjo para que eu conhecesse o verdadeiro sentido da palavra amor. Comecei a namorar com meu atual Marido, Fábio Ketz, que o acolheu como filho. Tive mais dois filhos, nossa família estava completa.

Em 2017, aos quinze anos, veio o diagnóstico de leucemia. Um choque para nós, meu mundo desabou. Mantive-me forte, pois ele era mais forte do que eu, não podia me ver chorando. Nossa rotina mudou drasticamente, tive que parar de trabalhar e estudar para cuidar dele.

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“Meu filho tinha um cabelo enorme, lindo, com seu consentimento doamos para o Instituto Cabelegria, onde fazem perucas para pacientes com câncer.”

Iniciamos o tratamento no final de 07/2017, após algumas sessões de quimio o seu cabelo começou a cair. Meu filho tinha um cabelo enorme, lindo, com seu consentimento doamos para o Instituto Cabelegria, onde fazem perucas para pacientes com câncer.

Em 12/2017 o Michel foi encaminhado ao TMO, porque as quimios não estavam surgindo o efeito esperado. Começamos uma corrida contra o tempo, pois como o Michel não possuía irmãos do mesmo pai a compatibilidade era baixa, restava o pai biológico ou eu fazer a doação com 50% se não fosse encontrado no banco de doadores do Redome.

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“No dia do aniversário do Michel ele estava muito feliz, mas hoje eu vejo que ali foi à despedida dele com meus pais, irmãos e familiares.”

Foi então que se iniciaram as buscas no Brasil e no exterior. No final de fevereiro recebemos a notícia de que o Michel tinha três doadoras que moravam no exterior e que eram compatíveis 100% com ele, isso realmente foi um milagre. Estava muito próximo do seu aniversário de dezesseis anos.

No dia do aniversário do Michel, 01/03/2018, comemoramos com pizza e no final de semana fomos para a casa dos meus pais para uma festa surpresa. Ele estava muito feliz, mas hoje eu vejo que ali foi à despedida dele com meus pais, irmãos e familiares.

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“Meu filho me dizia, “não chore mãe, não há de ser nada, às vezes chegamos lá, eles me medicam e já voltamos pra casa.” 

No sábado ele saiu com os amigos. No domingo não amanheceu bem, mas achávamos que era por conta das quimios. Verifiquei sua temperatura, 37.2, nos arrumamos e seguimos para o hospital.

Não esqueço a sensação de dor que senti naquele dia, eu fui chorando até chegar ao hospital, e meu filho me dizia, “não chore mãe, não há de ser nada, às vezes chegamos lá, eles me medicam e já voltamos pra casa”. Eu respondi que estava tudo bem, que era só cansaço.

Exames foram realizados e foi constatada a baixa em suas plaquetas. Realizou transfusão e internou para acompanhamento do quadro clínico. Internamos no dia 19 de madrugada e, pela manhã, a médica havia visitado o Michel, onde o mesmo se queixou de tosse seca, ela informou que seu quadro estava instável e sem febre.

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“Eu me aproximei do meu filho e me despedi, disse que o amava e que ficaria esperando, ele disse que também me amava e que sabia o que estava acontecendo.”

Na parte da tarde sua tosse evolui para uma tosse carregada, começou a se queixar de dores no pulmão e falta de ar quando, de repente, cuspiu sangue pela boca. Foi encaminhado para a UTI, às 19h do dia 19/03/2018, lá pude ter um momento de oração com meu filho, onde ungi sua cabeça com óleo de nardo e, mesmo com dificuldades para respirar, ele me acompanhou na oração.

Momentos depois a médica me comunicou que entubariam o Michel, ele estava com muita dificuldade em respirar. Eu me aproximei do meu filho e me despedi, disse que o amava e que ficaria esperando, ele disse que também me amava e que sabia o que estava acontecendo.

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“É inexplicável a notícia que um filho não resistiu, o chão se abre, passa um filme em sua cabeça em questão de segundos.”

Quando saí do quarto comecei a orar e clamar a Deus pela vida do meu filho, mesmo que já tivesse entregado ao Senhor, uma mãe jamais espera pela morte de um filho, e as 01h do dia 20/01/2018 nosso Michel nos deixou e voltou para casa ao lado de nosso Deus Pai.

É inexplicável a notícia que um filho não resistiu, o chão se abre, passa um filme em sua cabeça em questão de segundos, desde o nascimento até a sua partida.

Eu costumo falar que não perdi meu filho, porque sei onde ele está, no paraíso junto de nosso Senhor Jesus Cristo e aguardo ansiosamente pelo nosso reencontro, para nunca mais sentir saudades. Lá não haverá morte e choro, nunca mais.

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“Michel manifestou seu desejo em ter o sobrenome do pai afetivo. O reconhecimento da paternidade só saiu agora.”

Michel manifestou seu desejo em ter o sobrenome do pai afetivo. O reconhecimento da paternidade só saiu agora, pois como ele já havia falecido a justiça não sabia como lidar com este caso, que era algo novo, o pai afetivo pedindo o reconhecimento do filho já falecido.

Parte do que vivemos foi tema do meu TCC: “PATERNIDADE SOCIOAFETIVA: O RECONHECIMENTO POST MORTEM PARA A EFETIVAÇÃO DO PRINCÍPIO À DIGNIDADE HUMANA.”

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“O mês de março me traz alegria e tristeza ao mesmo tempo, um mês difícil.”

O que tem me sustentado até aqui é a mão de Deus, sua graça me basta, eu sei que não foi um adeus e sim um até breve. Dia 01/03 meu filho completaria 21 anos. Dia 20/03/2023 fará cinco anos de sua partida. O mês de março me traz alegria e tristeza ao mesmo tempo, um mês difícil.

Me agarro às boas lembranças e agradeço a Deus por ter tido a oportunidade de ser mãe do Michel durante dezesseis anos, uma idade marcante pra mim, porque eu o tive com esta idade.”

(Autoria: Michelli de Lima Ketz)

@mlimaketz

@lacoselutos_

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