“Mãe, beijão, te amo…”

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“Beijão, te amo.” Na mensagem, a certeza desse amor. Na passagem por aqui, a certeza, que esse jovem amado pelos amigos, homenageado, é muito maior, intenso, e não ficará, jamais, reduzido a essa dor que chegou e o retirou. Victor leva as respostas com ele, mas algumas respostas temos, não foi covardia, não foi coragem, foi dor. Vanessa, mãe, fará o caminho de volta muitas vezes, porque amor é assim, volta várias vezes, mas somos pequenos quando pensamos em tudo, e o tudo nem sempre nos é possível. Beijão, te amo, isso é imenso e fica. Um filho fica, para sempre. Assim é, será, assim deve ser.

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“Sou filha única, mãe de filho único, engravidei aos dezessete anos e, ali, eu percebi que nunca mais estaria sozinha. Um amor incondicional.”

“Sou Vanessa, mãe do Victor Dominone, com muito orgulho.

Sou filha única, mãe de filho único, engravidei aos dezessete anos e, ali, eu percebi que nunca mais estaria sozinha. Um amor incondicional e uma abdicação da minha vida para fazer tudo com ele, por ele e para ele. Saí do colégio, entrei para a faculdade, Pós-graduação, trabalho, minha vida era aproveitar tudo com ele, eu nunca parei, a felicidade dele era o meu propósito de vida.

Um menino lindo, juro, a beleza física e de coração não se encontra igual por aí, humilde, bondoso, simpático, engraçado, inteligente e educado, me faltam palavras para tantas qualidades e, uma delas, sua intensidade em viver tudo na vida de uma forma surreal.
Desde pequeno ele queria ir a todas as festas, fazia amizades facilmente, praticava todos os esportes, e era bom em todos, judô, tênis, natação, capoeira, jiu jitsu, muay thai e, mais tarde, musculação. Como ele mesmo dizia, “mãe, você não imagina como eu tenho amigos”. Uma força pra defender e cuidar de quem ele amava fora do normal, desde criança até adulto.

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“Não sei muito em que momento teve início a depressão, talvez por volta dos dezenove anos, talvez antes e eu não tenha percebido alguns traços.”

Nosso amor de mãe e filho, tinha intensidade, conexão e intimidade, parceiros para tudo, tudo mesmo, desde filmes, séries, estudos, treinos, piadas, dancinhas, cozinhar, garotas, até opinião de roupas rsrs sei tudo o que ele gostava. Nossos gostos eram os mesmos.
Nós compartilhávamos as alegrias, tristezas, confidências e até mesmo os momentos de angústia e ansiedade.

Não sei muito em que momento teve início a depressão, talvez por volta dos dezenove anos, talvez antes e eu não tenha percebido alguns traços. Inicialmente, nada sério a ponto de pensar em tratamento. Victor era sempre muito ativo. Entrou para faculdade de Nutrição, muito feliz e focado.

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“Veio a pandemia e tudo se intensificou…iniciou o tratamento medicamentoso. Foi uma fase de difícil aceitação da depressão, por todos, e muito mais para ele.”

Mantinha uma relação amorosa muito intensa, de muito amor, eu, como mãe, sabia que aquilo mexia com ele, muitas dúvidas na cabecinha dele. As crises iniciaram. Insisti que procurasse ajuda e, com a preocupação dos amigos (as) e da namorada, aceitou passar pelo Psiquiatra e Psicólogo. Iniciou o tratamento medicamentoso. Foi uma fase de difícil aceitação da depressão, por todos, e muito mais para ele.

Veio a pandemia e tudo se intensificou, inclusive as brigas pelo meu cuidado extremo e proteção, normal para uma mãe com um filho jovem que estava adoecido, mas que mantinha uma vida muito normal.

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“Nessa época, diante do quanto ele se encontrava angustiado, fizemos de tudo, pois estava muito ansioso e perturbado.”

Último ano de faculdade. O estágio parou. Passou a ficar mais tempo dentro de casa e nossa relação familiar se estreitou, com tanta amorosidade que parecia uma preparação. Vivemos os momentos mais lindos juntos.

Nessa época, diante do quanto ele se encontrava angustiado, fizemos de tudo, pois estava muito ansioso e perturbado. Ganhou um cachorro, Brutos, ele sempre quis, foi amor à primeira vista. Fez todas as tatuagens que queria aos 21 anos, uma era pra mim, viajou com amigos, curtiu. Acompanhei meus filho em várias terapias energéticas, Reike, Reprogramação Energética, Centros Religiosos, oração e ele, passando por todos esses momentos, seguia estudando e indo para a faculdade, se dedicando. Victor teve uma melhora absurda e eu respirei aliviada, pensei, “passou…”

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“Nos dias em que se sentia muito mal, deitávamos de mãos dadas e rezávamos juntos. Formamos uma rede de apoio e sempre que ele saía era uma dor, uma preocupação imensa, até o dia…”

Meu filho era um jovem de fé, dizia que trazia a igreja dentro de si, tinha um tercinho que rezava sempre, dormia com ele. Nos dias em que se sentia muito mal, deitávamos de mãos dadas e rezávamos juntos.

O sorriso no rosto sempre disfarçava a melancolia, ele falava mãe “tô cansado de disfarçar um Victor que não consigo mais ser”, por uma vez cogitamos internar, mas ele relutou, teve algumas crises, me culpo ainda… Formamos uma rede de apoio e sempre que ele saía era uma dor, uma preocupação imensa, até o dia…

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“Sua última mensagem foi para mim, “beijão, te amo “. Uma sensação de morte interna tomou conta de mim.”

Era sábado, meu filho saiu com um amigo pra dar uma volta, ele não saia mais de carro. Esteve num barzinho na cidade, numa avenida em que todos os jovens se encontram, ele se desesperou diante de vários gatilhos. Sumiu e o suicídio aconteceu.

Sua última mensagem foi para mim, “beijão, te amo “, frase que virou tatuagem em mim.
Quando o telefone tocou, através da ligação de um dos seus melhores amigos, informando que havia tido um acidente, senti “perdi, meus Deus”. Meu amor maior dessa vida tinha partido e eu não consegui… uma sensação de morte interna tomou conta de mim, minha culpa segue até hoje em dias de muita saudade e dor.

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“No velório eu estava atormentada, anestesiada, andava de um lado para o outro, falava com todo mundo, ainda sem acreditar que ele havia partido. Ali eu vi, e todos viram, que ele era muito amado e especial.”

No velório eu estava atormentada, anestesiada, andava de um lado para o outro, falava com todo mundo, ainda sem acreditar que ele havia partido. Sei que foi um dos velórios que mais chamaram a atenção na cidade, pois nunca tinha visto tanta tanta gente, tantos amigos, família, a rua fechou, a ponto de chamarem a guarda municipal. Isso tudo em plena pandemia. Ali eu vi, e todos viram, que ele era muito amado e especial, isso me confortava e, ao mesmo tempo, acabava comigo.

Um dia antes ele estava feliz, havia ido a um show, chegou com vídeos, me mostrou, demos risadas, brincou com o cachorro, falou “mãe, esse cara, cantor, sou fã dele, sei todas as músicas e ele me gravou, tô feliz, mãe. Tinha até me mandado mensagem antes avisando para abrir o portão que estava chegando.

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“Deus sabe da luta dele. Lutou muito, não queria, eu sei. Não tem dor maior, ninguém nunca vai sentir ou imaginar o que nós sentimos.”

Deus sabe da luta dele. Lutou muito, não queria, eu sei. Ele só queria acabar com a própria dor, que era muita. E eu, que por muito tempo, passava a noite acordada rezando para Deus livrá-lo de todo mal e curá-lo. Deus o recolheu para ser luz numa outra dimensão .
Ele era demais para esse mundo, para continuar sofrendo. Não tem dor maior, ninguém nunca vai sentir ou imaginar o que nós sentimos.

Meu filho tinha uma vida inteira pela frente, levada pela depressão. Tudo o que fizemos não adiantou? Até hoje não sei, sei que a depressão deve ser vista como uma doença sistêmica, muito séria, com consequências químicas e na alma.

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“Tento seguir numa nesta personagem de mãe forte, às vezes, peço desculpas por pensar em desistir, perdi meu chão, minha outra vida fora de mim.”

Tive duas terapeutas, amigos e amigas que me ajudaram, além da vida espiritual, maneiras tentar aliviar um pouco. Nosso amor vai além dessa vida. Hoje, sei que ele está bem, em paz, num lugar lindo, tenho certeza disso, ele merecia. De algum jeito sei que vamos nos reencontrar, isso me faz ficar em pé.

Tento seguir numa nesta personagem de mãe forte, às vezes, peço desculpas por pensar em desistir, perdi meu chão, minha outra vida fora de mim. Não serei a mesma, meu sorriso nunca mais será o mesmo, a vida sem meu filho não é a mesma. São dois anos infinitos, mas parece que foi ontem. Sigo lutando pra mantê-lo vivo sempre, para que sua essência seja lembrada além do suicídio, ele era muito mais. Não foi covardia e nem coragem. Hoje ele é meu anjo.

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“A saudade é absurda, choro muito ainda, uma sensação de vazio e falta de sentido em continuar, aí respiro, penso nele e peço a sua força.”

Ouço muito de quem o ama, Victor é único, inesquecível, insubstituível e será lembrado todos os dias, 24 horas, pela forma como foi criado e por todo amor que recebeu e doou para as pessoas a quem amava.

A saudade é absurda, choro muito ainda, uma sensação de vazio e falta de sentido em continuar, aí respiro, penso nele e peço a sua força.

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“Victor é grande, maior que o suicídio. Sua presença é imensa em tudo, por tudo isso, meu amor maior, meu filho, tenho muito orgulho de você.”

Depois da sua partida fiquei sabendo de muitas atitudes lindas dele. Salvou amigos do suicídio, dava dinheiro no sinal para ambulante, tanto que foi eternizado e homenageado inúmeras vezes, foram mais de 25 amigos tatuando para ele, um TCC finalizado com seu nome, um artigo publicado internacionalmente, um DA com seu nome, campanha de natal e várias outras coisas .

Victor é grande, maior que o suicídio. Sua presença é imensa em tudo, por tudo isso, meu amor maior, meu filho, tenho muito orgulho de você, meu nutricionista que deixou um legado e transformou vidas, uniu pessoas e nos faz acreditar no reencontro!”

Sou mãe do Victor Dominone, com muito orgulho
Tem dor, mas tem muito amor.

Autoria: Vanessa Lima, mãe para sempre, do Victor Dominone

@vanjlima

@lacoselutos_

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