Meu filho, você continua aqui em mim!

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Oito anos, oito semanas, oito dias? Não importa…Gisane fala dessa mistura quando o amor mora dentro da gente, dessa mudança na relação com o tempo, “o tempo para uma mãe enlutada passa arrastado, tudo parece tão recente e de fato é.”

O amor traz uma força que nem imaginávamos ter. Força para lidar com o que se lida durante e depois. Força para amar quem não está do lado de fora porque foi morar do lado de dentro. O Pedro fica, para sempre. Assim é, assim deve ser, assim merece ser, para sempre.

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“Com meu filho, aprendi muito mais do que ensinei. A rapidez com que tudo aconteceu, desde a doença até a sua partida, foi tão intensa quanto nossa vivência dentro daquele quarto de hospital.”

Meu nome é Gisane Maria Januário de Oliveira, tenho 38 anos e sou a mãe do Pedro.

O Pedro me deu o título de mãe há quatorze anos atrás, me mostrou o amor mais puro e mais forte que alguém poderia vivenciar. Nós éramos conectados de uma forma única. Ele me conhecia no olhar, era uma troca grandiosa de cuidado, atenção e cumplicidade. Com meu filho aprendi muito mais do que ensinei. Sempre generoso, gentil, sensível e amigo. Era impossível não sorrir ao lado dele!

A rapidez com que tudo aconteceu, desde a doença até a sua partida, foi tão intensa quanto nossa vivência dentro daquele quarto de hospital, que virou nossa casa por um período de seis meses. Mesmo com tantos desafios diários, entre agulhadas, exames, dores e remédios, meu filho nunca se abatia, sempre tinha um sorriso para ofertar ou uma palavra de ânimo para me entregar.

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“Era surreal dormir com a  vida seguindo seu fluxo normalmente e acordar no outro dia com o meu filho diagnosticado com um linfoma de hodking!”

 A partida dele foi muito rápida, desde a descoberta da doença até sua partida foram seis meses. Ele tinha todos os exames em dia. Era surreal dormir com a  vida seguindo seu fluxo normalmente e acordar no outro dia com o meu filho diagnosticado com um linfoma de hodking!  

A batalha foi árdua, com três meses de tratamento ele entrou em remissão, isso significa que a doença já não aparecia mais nos exames de imagem. A alegria foi enorme, mas só durou um mês.  

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“A doença voltou ainda mais agressiva, novo protocolo de quimio, medicação importada de custo  alto, uma corrente gigante, cheia de amor e de esperança.”

A doença voltou ainda mais agressiva, novo protocolo de quimioterapia, medicação importada de custo muito alto, uma campanha para doação de sangue, que se expandiu de uma maneira linda. Foi uma corrente gigante, cheia de amor e de esperança, ônibus e vans lotados saindo de vários pontos da cidade para abastecer o banco de sangue que há tempos carecia dessa demanda!  

Tivemos uma equipe de hematologistas muito competente, fizemos tudo que estava ao nosso alcance, mas, infelizmente, nada conseguiu parar a doença e aos seis anos de idade ele nos deixou.  

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“O tempo para uma mãe enlutada passa arrastado, tudo parece tão recente e de fato é! A vida vira uma eterna roda gigante…”

O Pedro partiu em 04/04/2015, aos seis anos de idade.

Falar desse processo desde a doença até sua partida ainda continua sendo difícil demais, mesmo já tendo passado quase oito anos! O tempo para uma mãe enlutada passa arrastado, tudo parece tão recente e de fato é! A vida vira uma eterna roda gigante, alguns dias mais amenos que outros, mas em todos eles a saudade do filho amado!

Tão pequeno para enfrentar uma batalha tão grande. A briga era desigual, mas ele encarou de cabeça erguida, com valentia e persistência. Foi um gigante com todo ímpeto da palavra! Sua força me contagiava, me recarregava e me fortalecia dia após dia!

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“São quase oito anos sem ouvir a sua voz, sem sentir o seu cheiro, sem poder beijar e abraçar… A caminhada até aqui foi a jornada mais difícil, mais deserta, mais devastadora que percorri.”

A solidão do luto é algo individual porque cada pessoa tem um jeito de sentir e de viver a sua dor, mas uma mãe enlutada e ateísta, vive essa solidão de forma mais acentuada. Por mais difícil que seja, aprendemos a seguir essa estrada em nossa própria companhia.

São quase oito anos sem ouvir a sua voz, sem sentir o seu cheiro, sem poder beijar e abraçar… A caminhada até aqui foi a jornada mais difícil, mais deserta, mais devastadora que percorri. Por vezes pensei em desistir, mas lembrava dos momentos em que o Pedro me mostrava, na prática, que não importava quão angustiante fosse o processo, algumas vezes seria necessário renascer na dor para romper o casulo e voltar a voar, e foi assim que cheguei até aqui. Eu tive o melhor professor e aproveitei cada lição que ele generosamente me ensinou!

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“Nosso tempo foi breve, mas aproveitamos cada minuto em que estivemos juntos, na saúde e na doença.”

O meu conforto nunca foi por um reencontro, mas pelo fato de saber que dei o meu melhor, que tentei de todas as formas possíveis ser a melhor mãe que eu poderia. Me doei por inteira e abdiquei da minha vida para viver a dele e por ele. Faria tudo de novo e quantas vezes fosse preciso.

Nosso tempo foi breve, mas aproveitamos cada minuto em que estivemos juntos, na saúde e na doença. Fomos imensamente felizes, imensamente, e sou grata por isso!

fb_img_1675275403240“A saudade dói, arde, queima, mas também tem a sua beleza…O Pedro não está mais aqui comigo, mas ele continua aqui em mim!”

A saudade dói, arde, queima, mas também tem a sua beleza, porque ela eterniza o amor que ficou, e essa grandeza é inestimável!

O meu filho continua presente em nossa casa e em nossas lembranças. E eu continuo aqui, me reinventando, me reconstruindo, me reformulando… Morrendo e Renascendo todos os dias!

Meu filho, você não está mais aqui comigo, mas continua aqui, em mim!

Com amor, Gisane!

@gisanemaria2020 

@lacoselutos_

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