Quantos dias nessa travessia para ser amado? Um, dois, a gestação? Não há tempo, o amor dribla o tempo, faz pouco caso dele, fica quando uma mãe imagina que um filho chegará, fica quando os olhos tocam o que nasce do próprio amor. Laurinha foi sonhada, veio e ficou, para sempre, virou jardim, flor, entardecer e todas essas delicadezas que os olhos alcançam. Assim é, assim deve ser, assim merece ser, para sempre.
“A Laura sempre existiu em nossas vidas e vai existir pra sempre.”
“Eu sempre quis ter minha Laura e ela sempre existiu…Desde quando eu era mais nova, sempre falei que quando tivesse uma filha, teria o nome Laura. Na época do namoro, eu e meu marido – Renan, já falávamos dela. A Laura sempre existiu em nossas vidas e vai existir pra sempre.
Éramos casados desde 2008 e o Miguelzinho, nosso primeiro filho, chegou em 2017 trazendo muito amor e alegria à nossa família. No final de 2019 descobri que estava grávida novamente. Não foi uma gravidez planejada, mas foi muito bem-vinda.
“Descobrimos que era uma MENINA que estava a caminho. Mais um sonho se realizando em nossas vidas: teríamos um casal.
No mesmo período que descobri a gravidez, estava organizando as coisas para mudança de cidade por conta do trabalho do meu marido. Iniciei o pré-natal em SP. Em fevereiro de 2020 mudamos para Campinas, num condomínio gostoso, um lugar cheio de natureza. Estávamos felizes da vida, vivendo um sonho. Logo encontrei uma médica em Campinas, continuei fazendo meu pré-natal normalmente e tudo parecia que estava indo bem.
Fiz todos os exames solicitados, sempre fazia os exames sozinha, pois a pandemia iniciou logo após a nossa mudança de cidade e, durante a pandemia, não era permitido levar acompanhantes.
Em maio descobrimos que era uma MENINA que estava a caminho. Mais um sonho se realizando em nossas vidas: teríamos um casal. Nossa Laurinha amada, aquela que a gente sempre falou, apresentou-se para nós.
“Começou a aparecer nos exames que o percentil estava baixo, a Laura estava pequena para a idade gestacional.”
Os exames, aparentemente, estavam bons, mas havia uma insegurança que me acompanhava (diferente da primeira gestação) e eu pensava que era preocupação por conta da nova rotina que se aproximava, agora com duas crianças.
Em maio ou junho, não lembro ao certo, resolvi mudar de médica. Levei todos os exames que havia feito e demos continuidade ao pré-natal. Começou a aparecer nos exames que o percentil estava baixo, a Laura estava pequena para a idade gestacional. Eu não me preocupei na hora, pois o Miguel, meu primeiro filho, nasceu pequeno. A médica achou melhor fazer exames com mais frequência, uma vez por semana, para acompanhar de perto o crescimento da Laurinha.
“Tudo estava fluindo para a chegada da nossa menina. O Miguel estava feliz da vida com a irmãzinha e participou de tudo.”
Recebemos muitos presentinhos pelo correio, já que não era permitido ver as pessoas presencialmente. E eu, grávida, tomei um super cuidado para não pegar Covid. Organizamos um chá de bebê virtual, arrumamos o enxoval, montamos o quarto… Tudo estava fluindo para a chegada da nossa menina. O Miguel estava feliz da vida com a irmãzinha e participou de tudo.
Com trinta e seis semanas de gravidez, no dia 04/08/20, tinha mais um ultrassom marcado. Dessa vez autorizaram a companhia dos meus amores, Renan e Miguel estavam comigo. Estava feliz, pois eles a veriam através “da telinha” do ultrassom.
“A médica, ao ver o resultado do exame, disse: “precisamos fazer uma cesárea de urgência porque a Laura pode entrar em sofrimento.”
Ao iniciar o exame, a médica tentava passar tranquilidade, mas estava com um semblante bem preocupado. A Laura não tinha crescido, nem engordado. Nada havia mudado desde o último exame. O percentil estava baixíssimo.
No final do mesmo dia fomos para consulta e a médica, ao ver o resultado do exame, disse: “Vamos agora para o hospital, precisamos fazer uma cesárea de urgência porque a Laura pode entrar em sofrimento.” Eu fiquei assustada, não havia arrumado nada, não estava preparada para ouvir aquilo, afinal, eu ainda estava com trinta e seis semanas de gestação.
Precisava buscar minha mãe em SP para ficar com o Miguel enquanto eu estivesse no hospital. A médica entendeu e falou que poderia ser, no máximo, no dia seguinte pela manhã. Foi o que aconteceu. Resumindo, correria total e um aperto no coração.
“Corri arrumar as roupinhas pra levar… roupinhas lindas que ela nunca pôde usar. Precisou ir direto para a UTI Neonatal.”
Corri arrumar as roupinhas pra levar… roupinhas lindas que ela nunca pôde usar. Fomos para o Hospital e no dia 05/08/20 a Laurinha chegou… Que emoção! Pequenininha, delicada, linda! A mesma carinha do irmão. Nossa filha, nossa menina. Quanto amor.
Precisou ir direto para a UTI Neonatal. A princípio era apenas para ganhar peso, pois nasceu com menos de 2kg (1.700kg), meu coração estava muito apertado. Eu queria a Laurinha comigo, pertinho…
“E quando a voz saía, conversávamos muito com ela, “que era nossa florzinha, e que logo ela iria pra casa (a gente acreditava!)”
Enquanto ela estava na UTI, podíamos visitar apenas uma vez por dia (apenas 30 minutos!!!). Nesses poucos minutos nos dividíamos entre receber informações sobre seu estado de saúde e ficar pertinho dela.
Ficávamos ao lado do bercinho, cantando, fazendo carinho (driblando os fios) e falando o quanto ela era amada. A gente passava a mão devagarzinho nas suas mãozinhas, nos seus pezinhos e cantava músicas de ninar, hinos… E quando a voz saía, conversávamos muito com ela, “que era nossa florzinha, e que logo ela iria pra casa (a gente acreditava!).
Muitas vezes, mesmo sedada, ela dava umas piscadinhas, se mexia, parecia que queria se comunicar, demonstrar que estava escutando as músicas, sentindo nosso carinho e nosso amor.
“Muitas vezes eu não aguentava e me acabava em lágrimas, com o coração despedaçado. Eu saía daquela UTI arrasada, juntando os cacos.”
Na UTI Neonatal foi descoberto que a Laura tinha uma má formação no coração e precisava fazer uma cirurgia, só assim seria possível ela viver. Tive alta e a Laura ficou no hospital. Saí de colo vazio. Minha menina ficou “sozinha” na UTI Neonatal. Que tristeza!
Era muito difícil ver minha pequena ali, tão delicada, cheia de fios e máquinas apitando. Muitas vezes eu não aguentava e me acabava em lágrimas, com o coração despedaçado. Eu saía daquela UTI arrasada, juntando os cacos.
Quando terminava a visita, no caminho de volta pra casa, um silêncio e o nó na garganta. Ia olhando tudo, os carros passando, as árvores, os pássaros, tudo continuava como antes, ao mesmo tempo, parecia que todas as vozes e todos os sons estavam abafados, sensação estranha.
“Cada vez que o telefone tocava eu ficava com muito medo e o coração acelerava. Tinha medo de ser ligação do hospital.”
Paramos algumas vezes o carro, eu e meu marido, em uma rua qualquer pra chorar. As lágrimas desciam involuntariamente, chorávamos muito, de soluçar, como crianças. Toda vez que a gente chegava em casa após a visita, o Miguel perguntava da irmã. Como ele esperou essa irmãzinha! Ele foi e até hoje é um irmão maravilhoso. Fala da Laurinha com todo amor do mundo.
Cada vez que o telefone tocava eu ficava com muito medo e o coração acelerava. Tinha medo de ser ligação do hospital e, no meio daquele turbilhão, eu pensava em “fazer uma festa” no dia em que ela tivesse alta do hospital. Pensava em colocar bexigas na porta de casa, enfim… Esse dia foi muito, muito esperado, mas infelizmente nunca chegou.
” É um vazio enorme, uma dor que não têm explicação. A gente passa muito tempo desacreditando que aquilo está acontecendo com a gente.”
Com sete dias de vida a Laura fez a cirurgia. Horas e horas, dia interminável. A cirurgia foi feita e deu tudo certo, porém, no pós-operatório a Laura não resistiu e partiu. Voou desse mundo e deixou um amor gigantesco. Nossa florzinha, nossa amada Laurinha partiu.
Depois disso é muito triste! É um vazio enorme, uma dor que não têm explicação. Nenhum pai e nenhuma mãe deveria ter de escolher um caixão para um filho. Difícil entender, difícil acreditar. A gente passa muito tempo desacreditando que aquilo está acontecendo com a gente.
“Sua passagem foi breve, mas o amor… eu faço questão de homenageá-la de todas as maneiras que posso.”
Depois de tudo, o que fica é o amor sem tamanho que nossa florzinha deixou. Sua passagem foi breve, mas o amor… Ah, quanto amor!
Eu faço questão de homenageá-la de todas as maneiras que posso:
– Fizemos em casa o “Jardim da Laura”, com flores e muito amor,
– Fiz uma tatuagem nas costas com uma flor, o nome da Laura e a data de nascimento,
– Abri uma página no Instagram @minhaflorzinha_laura,
– Fizemos uma homenagem no parque, quando fez um ano,
– Fiz um ursinho com a roupinha que ela sairia da maternidade, enfim…
“Eu escolheria ser mãe da Laura, mesmo que brevemente, milhões de vezes. Vontade de gritar para o mundo todo ouvir: “Eu te amo Laura”.”
Laura sempre está presente. É muito amor por nossa menina. Hoje me interesso pelo tema luto. Leio livros, fiz um curso sobre Luto na Santa Casa de São Paulo, ouço podcast, vejo lives, busco informação e agora estou prestes a iniciar um trabalho voluntário na Ong Amada Helena que me acolheu lá no início.
Eu sou muito grata por ela ter me escolhido como mãe. E eu? Eu escolheria ser mãe da Laura, mesmo que brevemente, milhões de vezes. Vontade de gritar para o mundo todo ouvir: “Eu te amo Laura”.”
Autoria: Dayana Horan
@minhaflorzinha_laura
@lacoselutos_