Minha mãe, minha filha, sobreviverei pela fé…

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Arlete, esposa, mãe e avó. Catarina, filha, irmã, neta, sobrinha. As duas partem juntas, avó e neta. Como sobreviver a tamanha saudade? Sobrevivendo pela fé, tendo a compreensão que somos estrangeiros e morte e vida andam lado a lado e que sempre faltarão duas peças fundamentais. Como sobreviver? Agradecendo pela irmã que residirá para sempre no coração de Cecilia, agradecendo pelos ensinamentos que essa mãe ofereceu, agradecendo pela vida intensa que essa filha ofereceu. Elas ficam na compreensão das palavras de Cecilia, a sua missão terminou, não da forma que esperávamos, mas da forma que era para acontecer, e não temos como mudar isso. Arlete e Catarina permanecerão, é amor que transcende, que ultrapassa os lugares onde nossos olhos alcançam. Elas ficam porque amor não morre, amor é para sempre.

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“Esposa, mãe e avó dedicada e amorosa, dona de uma fé inabalável, essa é a minha mãe Arlete, forte como as pedras que víamos na praia.”

“Feche seus olhos e imagine uma mulher linda com imensos e brilhantes olhos azuis, sua pele é rosada, seus traços são fortes e definidos. Ela é vaidosa, elegante, ama viver, viajou pelo mundo, passou pela bela Veneza e chegou até a Terra Santa, topava ir para qualquer canto!

Seus cabelos lisos e finos estão levemente grisalhos, gosta de aproveitar a vida, exerce sua missão com grande sabedoria! Dona de alguns ditados sábios, por exemplo, “quem tem tempo, não espera tempo”. Sua cor preferida é verde, ama doces, seus olhos vibravam de alegria quando avista uma manga. Esposa, mãe e avó dedicada e amorosa, dona de uma fé inabalável, essa é a minha mãe Arlete, forte como as pedras que víamos na praia, banhadas pelas ondas raivosas do mar que batem com toda força, mas a pedra é rígida, assim como minha mãe, a principal peça da minha vida.

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“Um dos ensinamentos dela, “você tem fé? Eu respondo, “sim”, com sua voz tranquila me diz: “então, entrega para Deus, simples assim”.”

O seu colo era sempre gentil, suas palavras, em alguns momentos, ásperas e, em outros, recheadas de carinho. Ela sabia balancear o amor e a dor, as lágrimas e os sorrisos! Um dos ensinamentos dela, “você tem fé? Eu respondo, “sim”, com sua voz tranquila me diz: “então, entrega para Deus, simples assim”.

Agora te apresento uma linda garotinha de dois anos, tem a pele branca, olhos castanhos vivos e brilhantes, é esguia, suas pernas são longas, ah, seu cabelo é como o dos querubins, encaracolados, cor de mel. Ela ama doces, assim como sua vó Arlete, vou confessar, na verdade, o amor entre as duas era mesmo SOBRENATURAL.

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“Sabe aqueles dias que dá vontade de congelar, parar para nunca acabar e, assim, passamos dez dias intensos de alegria e felicidade.”

Garotinha birrenta, brava, temperamental, inteligente e dona de um sorriso banguelo, falta um dente, intensa como era quebrou o primeiro que apareceu! Imagina essa doce garotinha chamando a todo tempo sua MÃE de mamis com toda ternura que só a infância nos proporciona, essa personagem é minha filha Catarina.

O quebra cabeça da nossa família tinha dez peças, confiantes e felizes, fomos em janeiro de 2022 para Itapema SC. Catarina conheceu o mar, degustava a água salgada como se fosse um suco refrescante, comia e jogava areia como se fossem doces, pegava as conchinhas sem parar. Sabe aqueles dias que dá vontade de congelar, parar para nunca acabar e, assim, passamos dez dias intensos de alegria e felicidade.

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“Eu estava estendendo o vestido rosa preferido da minha Catarina, o telefone toca, é a Cecilia, “mãe, sofremos um acidente”.

Pego um ônibus rumo à Londrina. Deixo minhas duas filhas, Catarina e Cecília, a mais velha, com meus pais e minha irmã, que é uma outra metade do meu coração fora do meu peito! Me recordo das últimas palavras que troquei com minha mãe, “está tudo bem, domingo estamos aí!

O domingo amanheceu lindo, céu azul, era visível os raios de luz iluminando toda superfície, eu estava estendendo o vestido rosa preferido da minha Catarina, o telefone toca, é a Cecilia, “mãe, sofremos um acidente”. Pergunto, “como vocês estão?”, ela responde, “mãe, eu, meu vô e minha tia estamos bem, mas a vovó e a Catarina estão sem pulso.”

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“Eu entreguei minha mãe e minha filha para o céu, as duas morreram juntas, voaram para fora do carro, unidas e, assim, partiram para o céu! “

Foram longas horas até Ponta Grossa para confirmar a morte das duas, sim, as duas morreram juntas em um acidente de carro, voaram para fora do carro, unidas e, assim, partiram para o céu! Eu soltei um grito estridente e sofrido na tentativa de Deus desistir delas e deixar que ficassem comigo, mas não funcionou!

Eu entreguei minha mãe e minha filha para o céu. Como vivo? Tem dias que não vivo, apenas sobrevivo pela fé! E o quebra cabeça ficou desfalcado, perdemos duas peças, mas as outras continuam e temos que viver intensamente o presente para termos histórias para contar. Vivo na certeza que somos estrangeiros aqui e o céu é o meu lugar. Entendi que a vida tem disso, sim, vida e morte andam lado a lado e ninguém poderá deter esse processo!!! E eu? O que faço? Sigo com o meu lema: “já que a vida me deu uma rasteira eu vou virar blogueira”.”

321621792_470118315078508_8378060000075244298_n“Minha irmã, você me ensinou a partilhar a vida com alguém, me ensinou a ter empatia e me ensinou, principalmente, o que é simplicidade.”

(Autoria: Francine)

Carta aberta a minha doce irmã…

“Querida Catarina, nesses últimos três dias ando com uma saudade imensa de ti, parece que estou vivendo um flashback de memórias que vivi com você. Ter a oportunidade de te conhecer, pegar no colo e viver com você nesses dois anos foram as melhores memórias que eu posso ter guardadas em meu coração…

Mesmo com tão pouca idade, você deixou uma mensagem tão bonita para nós aqui na terra, me ensinou a partilhar a vida com alguém, me ensinou a ter empatia e me ensinou, principalmente, o que é simplicidade.

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“Você faz uma imensa falta na minha vida, e sempre vai faltar um pedacinho do meu coração, que você está segurando aí de cima comigo.”

Você é uma garotinha muito incrível, eu peço a Deus e à mãezinha do céu, todos os dias, para que cuide de você muito bem, pois você e a vovó merecem o melhor carinho do mundo e o melhor abraço para abraçar. Você faz uma imensa falta na minha vida, e sempre vai faltar um pedacinho do meu coração, que você está segurando aí de cima comigo.

Cate, obrigada por ter salvado minha vida, se não fosse sua cadeirinha eu não estaria aqui escrevendo essa mensagem para você, eu sou muito grata a tudo que você fez por mim desde o momento em que nasceu. Dia 27/08/2019, às 08:18 da manhã, recebi a notícia que você havia nascido, meu coração se encheu de alegria e eu só sabia agradecer a Deus por ter me dado a oportunidade de ter uma irmã.

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“A sua missão terminou, não da forma que esperávamos, mas da forma que era para acontecer, e não temos como mudar isso.”

Como nossa avó falava, “Deus dá e Deus tira, ciclos são iniciados e ciclos terminam”. A sua missão terminou, não da forma que esperávamos, mas da forma que era para acontecer, e não temos como mudar isso.

Estou tentando me manter firme por você e pela vovó, lembro dela falando para mim “Cecilia, seja forte, não fica de cabeça baixa, pois não vai adiantar nada, se você tem fé, reza e entrega nas mãos de Deus” Assim estou fazendo, entregando meu futuro nas mãos Dele e pedindo para que tudo fique bem com o tempo…Catarina eu amo você, fique bem e cuide de todos nós, aí do céu.”

(Autoria: Cecilia, irmã de Catarina)

@francinona

@lacoselutos_

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