Era para ser mais um aniversário, um brinde à vida que dialogava com o desejo de comemorar, de mãos dadas com a dança e a música…o celular silenciou, não poderia dimensionar as chamadas insistentes e aflitas, as roupas não foram mais tocadas, os perfumes se esconderam da pele, o esmalte vermelho secou. Centenas de mães e pais amanheceram com as camas intocadas, lugares vazios nas mesas postas, choro e dor.
Importa pouco o tempo de despedida de um filho, ontem será sempre hoje, o tempo desobedece o amor e se alia à saudade, os relógios param, o coração passa a ser ocupado pelo desassossego, mesmo que seja um bom dia esse morador acenará, pais não se despedem de filhos, o coração não consegue compreender esse adeus.
Sim, Ligiane, o verão parecerá mais curto, o silêncio mais longo e a noite mais esticada, a ausência da voz e dos passos pela casa darão a medida da saudade, não haverá espaço que ocupe o lugar de sua filha, assim é, assim será.
O amor falará mais alto na existência dada aos filhos que não estão, na voz que não cala, na repetição das histórias, no direito à justiça.
Um filho merece continuar após as despedidas e esse é o jeito saudável de lidar com os vazios, arrumar lugares no “para sempre”, centenas e milhares de vezes, nas falas intermináveis, nas músicas e fotografias, no verão que encurta porque a dor, muitas vezes, cobre o sol de nuvens.
“Essa é a última foto que tirou aqui em casa, quando toda faceira escolhia o vestido pra usar à noite na comemoração do seu aniversário.”
“Então ai está minha filha Andri Righi se arriando pra Gabi para tirar foto, como sempre fazia…essa é a última foto que tirou aqui em casa, quando toda faceira escolhia o vestido pra usar à noite na comemoração do seu aniversário.
Comentou que ia “chapar” o cabelo, pintar as unhas de vermelho (em minha homenagem, pois, amo vermelho)e fazer a maquiagem da Pitty valorizar bem seus olhos. Flavinha pintou suas unhas e Gilmara ia fazer a maquiagem.
“Minha filha e suas amigas só queriam comemorar o seu aniversário, ainda espero minha filha voltar para casa…”
Na última hora foi com um vestido preto da Vitória. À tardinha foi pra casa da Flavinha com Luana me despedi dela e Luana, minha última imagem as duas rindo alto estavam felizes iam comemorar a vida!
Minha filha e suas amigas só queriam comemorar o seu aniversário e se divertir como todo jovem quer e voltar para casa, ainda espero minha filha voltar para casa…
Lembro das tardes que passamos juntas. Não é sempre. Mas eu sei que você está bem agora. Só que neste ano o verão acabou cedo demais.”
“Minha irmã morreu naquela noite. Eu gostaria de dizer que ela se recuperou por milagre, mas não. Ela só parou de respirar. “
“Minha irmã morreu naquela noite. Eu gostaria de dizer que ela se recuperou por milagre, mas não. Ela só parou de respirar. Ela se foi, virou um pedaço do céu azul. E nós, temos que continuar.
Eu nunca vou entender porque ela morreu e todos nós ficamos vivos. Não há explicação, eu acho. A morte é só a morte, ninguém entende mesmo. A questão é que eu tive uma irmã, e ela era fantástica. Um dia, eu sei que vou vê-la outra vez. Mas até lá, nossa relação continua.
“Era pra ser mais uma baladinha de aniversário, era pra vocês voltarem pra casa e me contarem todos os detalhes da noite anterior. Era pra vocês estarem aqui.”
Ela estava linda como jamais tinha visto antes. Um mulherão de unhas vermelhas, vestido decotado e salto alto, mas com aquela essência de moleca brincalhona. Era pra ser mais uma baladinha de aniversário, era pra vocês voltarem pra casa e me contarem todos os detalhes da noite anterior. Era pra vocês estarem aqui.”
Fiquem na luz, minhas gurias! Justiça. Memória. Saudade.
(Autoria: Ligiane Righi e Gabrielle Righi)
27/01/2020 Em memória dos 242 jovens e suas famílias, para que a dor não escolhida seja vista e acolhida de forma “justa” (Teresa Gouvea/Laços e Lutos)
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