“Vido”, você era minha chegada, meu destino…

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Fernanda e Erasmo, o amor que aconteceu dispensando uma segunda vez. Ele chega, gentil, doce e puro, ela fica. A saudade passeia pela casa, nos chinelos repousados, no silêncio do filtro, nas portas que não se abrem e não se fecham. A respiração cessa, o rosto fica sem o afago das mãos e o beijo terno. O choro na padaria e no supermercado. O choro no silêncio que fala. Erasmo faz falta em Fernanda, na vida e no mundo. Fernanda percorre as ruas da saudade procurando um outro jeito de encontrar seu amor, que merece ficar. Assim é, assim deve ser, assim merece ser, para sempre.

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“Erasmo é o grande amor da minha vida, sempre digo que o reencontrei, e nosso reencontro foi mágico.”

Sou Fernanda Maria Aristides Passos Esteves, 33 anos, casada com o Erasmo Carlos. Meu amor partiu em 22/11/2022.

Erasmo é o grande amor da minha vida, sempre digo que o reencontrei, e nosso reencontro foi mágico. Desde o primeiro momento já sabíamos que nos amávamos. Vivemos uma relação baseada na confiança, no respeito e no bom humor, que sempre foi a nossa marca.

Erasmo era gentil, correto, doce e puro, como uma criança. Cuidadoso com as pessoas, consciente do lugar que ocupava, mas com uma simplicidade linda de ver, viver e compartilhar.

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“Como ele já havia superado um quadro parecido, achamos que a luta já estava vencida, mas o desfecho não foi bom. Erasmo faleceu e me deixou aqui sozinha.”

“Vido”, como eu o chamava, começou a se sentir mal no final de setembro, em termos de saúde 2021 e 2022 foram anos desafiadores. Passamos por uma pandemia, Erasmo superou a Covid e eu acreditava que não existia monstro grande o bastante que pudesse derrubar ele. Foram 36 dias de internação, 36 dias de paciência, perseverança e muita luta.

Ele chegou a ter alta, mas no mesmo dia voltamos para o hospital, Erasmo tinha uma infecção que foi controlada, mas perto de ter alta ele teve uma reinfecção. Num primeiro momento, como ele já havia superado um quadro parecido, achamos que a luta já estava vencida, mas o desfecho não foi bom. Erasmo faleceu e me deixou aqui sozinha.

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“Acho que no fundo nós sempre soubemos que precisaríamos guardar coisas, eternizar lembranças, que iríamos invariavelmente sofrer por amor.”

Todos os símbolos do amor que vivemos são importantes para mim, mesmo que eu não consiga compreender o motivo de tentar fazer tudo com tanto significado. Acho que no fundo nós sempre soubemos que precisaríamos guardar coisas, eternizar lembranças, que iríamos invariavelmente sofrer por amor. Já começamos sabendo um pouco das sentenças que condenariam.

Foi tentando acalmar seu coração ansioso que eu passei a escrever na sua mão sempre que precisava ficar longe por mais horas. Funcionou! Você sabia que a escrita só sumiria quando eu voltasse, e esse foi um jeito de me manter perto, um jeito de te fazer me sentir por perto.

353055251_10160480202969185_5790701624589380035_n“O amor é confortável, macio, calmo, doce… o amor orienta. Estou desorientada.”

Tem tanto tempo que você está distante. Nada apareceu escrito na minha mão, tenho tanta coisa sua, mas nada que me dê pistas, nada que me diga que você já volta, ou não volta. O amor é confortável, macio, calmo, doce… o amor orienta. Estou desorientada.

Depois da nossa mudança de casa a ideia era levar o resto das coisas que ainda tinha aqui na casa dos meus pais, mas não deu tempo. Cheguei e encontrei presentes que não me lembrava de ter ganhado, vesti alguns, olhei outros e parecia que ele estava ali, sentado na minha cama, aprovando, reprovando e opinando, pedindo desfile e atento às minhas reações.

347020213_10160480203219185_3762015637648221739_n“Não é difícil me encontrar chorando em padarias e supermercados, como esses lugares me lembram você, quase consigo ouvir sua voz.”

Queria ser surpreendida por algum som que representasse vida na nossa casa, que me fizesse viva, que fosse Vido. Um arrastar de chinelos, o filtro de água trabalhando, sua máquina de gelo, uma respiração impaciente, a queda de um garfo, um pigarro, um resmungar, portas abrindo e fechado… eu ficaria em silêncio, não me levantaria para conferir nada, só me manteria quieta ouvindo os sons de uma casa viva, viva de Vido.

Chorei quando olhei seu último autorretrato. Vido, sabe o que é engraçado? Não é difícil me encontrar chorando em padarias e supermercados, como esses lugares me lembram você, quase consigo ouvir sua voz.

347427068_10160480198299185_8799858727023255585_n“Algumas vezes passo por caminhos que a gente percorria, converso com você, tento me enganar, não olho para o lado para não perceber sua ausência.”

A saudade está incomodando, parece que esses dias ela tem se mexido muito para se acomodar, delimitar o espaço que vai ocupar. Acho tão lindo a gente. Posso dizer que a gente combina? Sinto sua falta todos os dias! Se com você o mundo já era difícil, agora está desgovernado.

Algumas vezes passo por caminhos que a gente percorria, converso com você, tento me enganar, não olho para o lado para não perceber sua ausência, se tiver oportunidade fecho os olhos e aproveito você. Você é tão doce! Consigo sentir como seria apoiar a cabeça no seu peito e ter meu rosto acolhido pela sua mão, um carinho com o polegar e um beijo demorado no alto da cabeça.

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“O mal da morte é a falta de novidades… eu tenho tanta coisa para te contar, um mundo inteiro para te mostrar, e estou aqui sozinha.”

O mal da morte é a falta de novidades… eu tenho tanta coisa para te contar, um mundo inteiro para te mostrar, e estou aqui sozinha. Sua ausência ocupou a minha vida, tudo é sua falta. Você não era meu ponto de partida, meu amor, você era meu rumo, minha chegada, meu destino.

A sua ausência mexeu com a minha vida, meu corpo, minha memória e minha concentração. Seu paradeiro não é humano, não é exato, não é biológico, não existe uma explicação tão convincente quanto a que viria da sua voz, mas ela também não existe, eu a vi indo embora no último “eu te amo”. Falta você em mim, na nossa casa, no mundo… você colocava ordem nas coisas, Preto. Acho que era o seu peso sobre a terra o que mantinha tudo em imperfeito equilíbrio.
Eu sou enlouquecida por você.
E agora, Erasmo?

(Autoria: Fernanda Esteves)

@fernandaestevesbr

@lacoselutos_

1 comentários

  1. Nossa é tudo q estou vivendo tem 4 meses q perdi meu marido 45 anos de casada eu tinha 16 anos e ele 22 como tá doendo e esse sentimento relatado p esposa do Erasmo como me identifiquei tá difícil força p nós um abraço….

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